Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que o ministro da Saúde finaliza um parecer que irá desobrigar o uso de máscaras àqueles que já estiverem vacinados ou ainda a quem já tiver contraído a Covid-19.

Bolsonaro já participou de eventos públicos em que havia a aglomeração de pessoas sem o uso da proteção. Mas o ministro da Saúde, por outro lado, vem defendendo o uso da máscara e de outras medidas não farmacológicas, como o distanciamento físico, como instrumentos de prevenção e contenção da disseminação do coronavírus e externou publicamente essa posição nesta semana em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

“Acabei de conversar com um tal de Queiroga, não sei se vocês sabem quem é, o nosso ministro da Saúde. E ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que já estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar esse símbolo, que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse o presidente em evento de apoio ao setor de Turismo.

Pouco depois da declaração do presidente, o ministro divulgou um vídeo explicando que será feito um estudo sobre a questão.

“Recebi do presidente Bolsonaro hoje uma solicitação para fazer um estudo acerca do uso das máscaras. O presidente está muito satisfeito com o ritmo da campanha de vacinação no Brasil… O presidente acompanha o cenário internacional e vê que, em outros países onde a campanha de vacinação já avançou, as pessoas já estão flexibilizando o uso das máscaras”, disse Queiroga no vídeo.

“O presidente me pediu que fizesse um estudo para avaliar a situação aqui no Brasil. Então, vamos atender a essa demanda do presidente Bolsonaro”, acrescentou o ministro.

Na terça-feira, quando depôs à CPI, Queiroga reiterou em diversas ocasiões que a pasta “tem atuado fortemente” para reforçar a necessidade do uso de máscaras e chegou a preparar campanha de conscientização em que o tradicional personagem “Zé Gotinha” e sua família utilizam a proteção.

Questionado sobre a postura de Bolsonaro de comparecer a eventos sem máscara, afirmou que não cabia a ele, como ministro, julgar o presidente da República. Acrescentou, ainda, que Bolsonaro usou máscara “na grande maioria das vezes” em que esteve com o ministro.

A declaração de Bolsonaro causou forte reação de parlamentares.

“Fui o relator do projeto que estabeleceu a obrigatoriedade das máscaras no Brasil, já naquela ocasião, Bolsonaro se pronunciou claramente contra a ciência ao vetar a proposta”, disse o líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN).

“Vacina não quer dizer que alguém não possa ser contaminado e se transformar num transmissor da Covid. O que este senhor faz é altamente perigoso para o Brasil e o mundo. A todo momento ele parece lutar contra o fim da pandemia”, acrescentou o senador.

O vice-presidente da CPI da Covid no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), criticou duramente Bolsonaro.

“O presidente quer desobrigar o uso de máscara diante de 479.791 mortes por Covid no país!”, disse o senador no Twitter. “Uma demonstração clara de como o negacionismo está matando o nosso povo!”

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