O ex-presidente Jair Bolsonaro elogiou “a coragem” do magnata Elon Musk em “preservar a liberdade” de expressão no Brasil, e convocou seus apoiadores a defender esse direito, durante um ato organizado neste domingo no Rio de Janeiro.

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Musk “é um homem que realmente preserva-se pela liberdade a todos nós. É o homem que teve a coragem de mostrar, já com algumas provas, para onde a nossa democracia estava indo. O quanto de liberdade nós já perdemos”, disse o ex-presidente, na Praia de Copacabana.

A multidão aplaudiu com entusiasmo o dono da plataforma X, antigo Twitter, que enfrentou nos últimos dias o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e pediu a sua destituição.

O ato contou com a presença de 32.750 pessoas, que ocuparam ruas e parte da areia da Praia de Copacabana, segundo monitoramento da Universidade de São Paulo (USP) divulgado pela imprensa local.

Paralelamente ao evento bolsonarista, Musk publicou no X que Moraes “vai de encontro à vontade do povo e, portanto, à democracia”.

Em nome do combate à desinformação, Moraes determinou o bloqueio das contas de usuários em plataformas de internet, entre elas a X, principalmente contra tentativas de bolsonaristas de desacreditar o sistema de votação durante a última campanha eleitoral.

Acompanhado de sua mulher e filhos, Bolsonaro, 69, acusou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva de querer uma ditadura e convocou a “continuar a luta” pela defesa da liberdade de expressão no país, que disse estar ameaçada.

Outros oradores que participaram do ato arremeteram duramente contra Moraes, entre eles o deputado Nikolas Ferreira e o pastor evangélico Silas Malafaia.

Escalada da tensão

Reunidos desde cedo, milhares de apoiadores vestidos com as cores da bandeira nacional, alguns deles agitando bandeiras de Israel, misturavam-se a turistas que observavam com curiosidade a manifestação.

“Vim lutar pela minha liberdade de expressão, porque não temos mais esse direito. O STF passou de todos os limites. Não é por um partido, nem por uma pessoa”, disse a comunicadora Daiana Mesquita, 38.

Em resposta à investida de Musk, o magistrado determinou a investigação de Musk, acusando-o de “instrumentalizar” a plataforma. A briga entre os dois se estendeu a toda a esfera política e jurídica do Brasil.

Outros membros do STF se pronunciaram em apoio a Moraes, enquanto o presidente Lula afirmou em ato recente que “se pudesse, iria fazer um decreto: é proibido mentir. Quem mentir vai ser preso”, sem mencionar Musk diretamente.

Moraes multiplicou seus discursos públicos nos últimos dias, e afirmou que a Justiça brasileira está acostumada “a combater mercantilistas estrangeiros que tratam o Brasil como colônia”, referindo-se a Musk.

A Defensoria Pública pediu à Justiça que a plataforma X seja condenada a pagar um bilhão de reais em indenizações por danos morais coletivos e sociais ao Brasil, segundo a imprensa.

Parlamentares bolsonaristas e outros aliados acusaram o STF de estar alinhado ao governo de Lula e de minar a democracia e as liberdades.

Um comitê da Câmara de Representantes dos Estados Unidos divulgou na quinta-feira um relatório de centenas de páginas com decisões de Moraes que envolvem o X e outras plataformas digitais.

Na semana passada, a representação da rede social X no Brasil se comprometeu a cumprir as ordens do STF, segundo um documento obtido na terça-feira pela AFP.

À sombra da Justiça

A manifestação bolsonarista aconteceu dois meses após o político retornar à arena pública com uma demonstração de força em São Paulo, que reuniu cerca de 185.000 pessoas, segundo estimativas da USP.

Inabilitado para disputar eleições até 2030 por divulgar desinformação sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente (2019-2022) percorreu o país nos últimos meses para se encontrar com apoiadores.

Bolsonaro pediu hoje que o Brasil “volte à normalidade” e que sejam realizadas eleições “sem qualquer suspensão” de candidatos, a dois anos e meio do próximo pleito presidencial.

O ex-presidente é alvo de várias investigações judiciais, que poderiam levá-lo à prisão. Ele voltou a se defender hoje da acusação mais grave, de que teria conspirado para evitar que Lula assumisse o poder após as eleições de 2022, e insistiu em que é vitima de perseguição.