No início de março, nada menos que 26 pessoas que acompanharam o presidente Bolsonaro a uma viagem aos EUA, jocosamente conhecida como “Corona Trip”, testaram positivo para o novo coronavírus.

Eram dias de extremo negacionismo presidencial em relação à Covid-19. Bolsonaro desdenhava do vírus, projetava um número ínfimo de mortos, dizia se tratar de uma gripezinha ou resfriadinho, vangloriava-se de ser atleta, passeava sem máscara em lanchonetes e padarias, promovia aglomerações públicas e, literalmente, corria para a galera sem qualquer medida de proteção para si e os outros.

O presidente era cobrado, a todo instante, a apresentar os resultados de seus testes para Sars-Cov-2. Até mesmo uma decisão judicial foi proferida neste sentido, quando, finalmente, Bolsonaro divulgou o resultado “negativo” de um teste, realizado em nome de terceiros (segundo ele, por medidas de segurança). O assunto esfriou e tornou-se mais um dos mistérios jamais respondidos: afinal, Bolsonaro havia ou não contraído a doença?

Dias atrás, já em uma fase, digamos “paz e amor”, curiosamente iniciada após a prisão do primeiro-amigo Fabrício Queiroz, Jair Bolsonaro anuncia que está com Covid-19. Diz que está passando bem, fazendo uso de hidroxicloroquina e que trabalha normalmente no Palácio. Por que, desta vez, espontaneamente, resolveu divulgar o exame (realizado em seu próprio nome)? Só ele e Deus sabem.

Tudo poderia soar normal, corriqueiro, ainda que nada seja assim em torno do Clã Bolsonaro, afinal não é qualquer família brasileira que é recordista em venda de panetones, em dinheiro vivo, ou que condecora milicianos assassinos, ou que está sempre às voltas com funcionários fantasmas e esquemas de rachadinha. Fato é que, de normal, a suposta doença presidencial não tem nada.

Nada menos que 40 pessoas, que mantiveram contato próximo ou íntimo com o presidente, incluindo a primeira-dama Michelle, realizaram testes para o novo coronavírus. Adivinhem: todos testaram… negativo! Em março, quando parecia impossível, ou no mínimo improvável que Jair Bolsonaro não estivesse contaminado, ele se recusava a divulgar seus exames. Quando finalmente o fez, em nome de terceiros, testou negativo. Hoje, quando divulga um resultado positivo, em seu próprio nome, ninguém em seu entorno está contaminado.

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Esse maldito vírus é novo, cheio de surpresas e ninguém ainda o conhece muito bem, isso é verdade. Mas é inquestionável seu enorme poder de propagação. Talvez o presidente Bolsonaro se torne mais um dos inúmeros casos misteriosos a ser estudado: em meio a 26 contaminados, permaneceu imune. Hoje, doente, não contamina ninguém. Que continue assim, e que se recupere bem e rápido.


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