Na reunião ministerial em que admite interferir em órgãos do governo, o presidente Jair Bolsonaro defendeu armar a população para, segundo a sua visão, evitar que se imponha uma ditadura no País. No encontro, ocorrido no Palácio do Planalto no dia 22 de abril, o presidente indica ver fragilidade nas instituições ao declarar considerar ser “fácil”, “facílimo” dar um golpe e acabar com o atual sistema democrático. “Quero todo mundo armado! Que o povo armado jamais será escravizado.”

“Pôr uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz uma bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia para a rua”, afirmou Bolsonaro, se referindo a medidas restritivas impostas para evitar a propagação do novo coronavírus. “E se eu fosse ditador, né? Eu queria desarmar a população, como todos fizeram no passado quando queriam, antes de impor a sua respectiva ditadura.”

Na sequência, Bolsonaro cobra dos ministros da Defesa, Fernando Azevedo, e da Justiça, na época ainda Sérgio Moro, que assinassem uma portaria para dar “um puta de um recado para esses bostas”. A portaria citada foi publicada no Diário Oficial da União do dia seguinte, aumentando o número de munições de armas de fogo que cada pessoa pode ter acesso.

Com a modificação, o número de projéteis permitidos, no ano, pode ultrapassar 6 mil, segundo as contas do Instituto Sou da Paz. “Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não dá pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais”, disse Bolsonaro na reunião.

A medida foi publicada uma semana após Bolsonaro ordenar suspender outras três portarias do Exército que, na visão de especialistas, dificultavam a aquisição pelo crime organizado de munições desviadas de quartéis. Como revelou o Estadão, o Ministério Público Federal investiga interferência indevida do presidente no episódio. Na segunda-feira, procuradores acionaram a Justiça para que as normas sejam restabelecidas.

‘Rabo entre as pernas’

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Bolsonaro também cita decisões “monocráticas” tomadas por ministros do Supremo Tribunal Federal para fazer referência a um possível impeachment.

“O dia que for proibido de ir para qualquer lugar do Brasil, pelo Supremo, acabou o mandato. Espero que eles não decidam, ou ele, né? Monocraticamente, querer tomar certas medidas porque daí nós vamos ter uma crise política de verdade”, disse Bolsonaro. “Eu não vou meter o rabo no meio das pernas. Isso daí…zero, zero. Tá certo?”, completou o presidente.

Bolsonaro se referia à sua participação em uma manifestação que defendia o fechamento do Congresso e do STF no fim de semana anterior. A organização do ato virou alvo de inquérito na Corte por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Poucos dias antes, Moraes já havia decidido, monocraticamente, que o governo federal não poderia derrubar decretos de Estados e municípios que estabeleceram medidas de isolamento social. A decisão do ministro foi confirmada mais tarde pela maioria da Corte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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