Bolsonaro decidia alvos de suposta rede de espionagem ilegal, diz PF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) integrou o núcleo principal da “Abin paralela”, uma suposta rede clandestina de inteligência durante seu mandato, e foi responsável por decidir os possíveis alvos de ações de espionagem, segundo um relatório da Polícia Federal (PF) divulgado nesta quarta-feira (18).

Bolsonaro já está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por uma suposta tentativa de golpe de Estado para se manter no poder apesar da derrota eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.

Ele também está inelegível até 2030 por ter questionado sem provas o sistema de votação.

Em um caso separado, a Polícia Federal investigou Bolsonaro no caso conhecido como “Abin paralela”, que busca determinar se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi usada para disseminar desinformação e espionar opositores e instituições durante o governo do ex-presidente.

A polícia identificou o ex-mandatário como integrante do “núcleo político” da suposta rede de espionagem, junto com seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL/RJ), segundo um relatório da investigação divulgado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Este núcleo foi o responsável por definir as diretrizes estratégicas da [organização criminosa], determinar os alvos das ações clandestinas” e “se beneficiar politicamente das operações”, detalha o texto, com mais de mil páginas.

E acrescenta: “Era o centro decisório e o principal destinatário das “vantagens” ilícitas (manutenção no poder, ataque a adversários)”.

A PF recomendou o indiciamento de mais de 30 pessoas no caso. Entre elas, Carlos Bolsonaro, apontado pelos crimes de organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que já enfrenta essas acusações por liderar a suposta trama golpista, não foi incluído nessa lista.

Segundo a PF, entre os espionados havia opositores, jornalistas e autoridades dos Três Poderes, como o ministro Alexandre de Moraes, a quem Bolsonaro já chamou de “ditador” no passado.

Moraes, responsável pela investigação sobre espionagem ilegal e outros casos que envolvem Bolsonaro, retirou nesta quarta-feira o sigilo do relatório da polícia.

Os suspeitos teriam interceptado computadores e celulares, inclusive utilizando o software de espionagem israelense FirstMile, que permite rastrear a geolocalização de telefones celulares.

A recomendação de indiciamento inclui também o atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, que assumiu o cargo durante o governo Lula e é suspeito de dificultar a investigação.

Bolsonaro, de 70 anos, pode ser condenado a até 40 anos de prisão pelas acusações relacionadas à tentativa de golpe. Ele nega as acusações e afirma ser um “perseguido”.

Embora esteja inelegível, insiste que deseja ser candidato nas eleições de 2026.

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