Não bastasse o presidente Bolsonaro usar suas monetizadas redes sociais para fazer transmissões ao vivo com ataques às urnas eletrônicas, ao sistema eleitoral e aos ministros do STF, agora o mandatário resolveu escalar a questão para além das fronteiras brasileiras. Isso porque o presidente decidiu usar mais uma vez um inquérito da Polícia Federal sem conclusão de fraude nas urnas para fazer uma apresentação estapafúrdia para diversos embaixadores estrangeiros, alegando justamente o que o inquérito não apresenta: fraude nas urnas, claro.

Se as denúncias sem provas ou qualquer evidência que beire a realidade já são recorrentes, o ineditismo fica por conta da plateia, composta por representantes de diversos países com representantes no Brasil. A lista de convidados não foi divulgada oficialmente e enquanto o governo afirma que “cerca de 40 embaixadores” estavam presentes, corre em Brasília o boato de que apenas representantes desses embaixadores participaram da reunião, que nem constava na agenda oficial de Bolsonaro.

Através de slides – contendo erros gramaticais e de digitação –, o presidente passou cerca de 45 minutos repetindo as mentiras de sempre e acusou os ministros Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Morais e Luís Roberto Barroso de terem um só objetivo: tentar desestabilizar o País. Sim, os ministros, ele, jamais. Sem apresentar um único documento que possa provar suas denúncias, a tentativa de Bolsonaro foi a de tentar – aparentemente sem sucesso – fazer com que algum governo estrangeiro assuma as suas dores eleitorais.

Ao se ver como provável perdedor das próximas eleições presidenciais, Bolsonaro segue à risca a cartilha de Donald Trump: alegar que a eleição foi fraudada, mesmo antes de ela acontecer. O encontro desastrado com os embaixadores mostra que o atual presidente não acredita que suas bondades eleitoreiras surtirão efeito a apenas 77 dias das eleições. A fala de que ele confiaria apenas no “DataPovo”, na presença do público nas suas motociatas e eventos, também parece ficar restrita apenas ao seu cercadinho de apoiadores, em Brasília. Na “vida real”, ele sabe que está para trás na hora da intenção de voto. Apesar de vergonhoso, tudo que o presidente falou no encontro, parece não ter surtido o efeito desejado: nenhum governo parceiro do Brasil repercutiu a reunião, o assunto também não virou pauta da imprensa internacional. E agora?

Seguindo a lógica trumpista, o presidente deve dar mais um show de horrores durante o feriado de Sete de Setembro e fará o que puder para desmoralizar as urnas e as instituições até outubro. Contudo, fica o questionamento: se nem seu ídolo Donald Trump conseguiu dar um golpe com os recursos que tinha, será que Bolsonaro tem alguma chance de não sair dessa mais enrolado do que entrou?

As estratégias pró-golpistas dos bolsonaristas mais entusiasmados não têm tido uma margem relevante de sucesso até agora e parecem agradar apenas à base mais ferrenha da extrema-direita. Base que não consegue acreditar que os tais vídeos feitos diante de urnas eletrônicas com candidatos apertando o número 17, que elegia o atual presidente, o faziam na tentativa de eleger o governador em estados sem representante do partido em questão, o PSL. Logo, não conseguiram votar. Não precisa de um detetive forense para entender isso, um simples bom-senso resolveria a questão. Para quê insistir em algo desse tamanho? E em um pleito em que ele saiu vencedor? Assim como tantas questões envolvendo Bolsonaro, não há uma resposta que faça sentido. Como reagiu Fachin ao episódio: “É hora de dar basta à desinformação e ao populismo mautoritário”. Aliás, já passou da hora desse basta.