A nau da insensatez de Bolsonaro rumo ao golpe na democracia, que ele vem ensaiando há meses, deu a largada na manhã desta terça-feira, 10, com o desfile ameaçador dos 46 tanques e armas de guerra na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Está clara sua intenção de amedrontar os parlamentares que se reunirão ainda hoje na Câmara para deliberar sobre o voto impresso, uma das suas bravatas para justificar uma intervenção militar caso venha a perder as eleições do ano que vem. Ele não quer democracia, não quer eleições e deseja se perpetuar o poder “fora das quatro linhas da Constituição”, como ele mesmo já disse na semana passada.

Todos sabem, sobretudo ele, que o tal “voto auditável” não passará na Câmara, uma vez que presidentes dos 18 partidos mais importantes já manifestaram que o sistema de urnas eletrônicas é seguro e que o atual modelo de votação não mudará por ser o mais democrático e moderno em todo o mundo. Ele prega a mudança, contudo, para ter a narrativa de que o TSE quer favorecer seus adversários para derrotá-lo. Mentira que ele vem repetindo exaustivamente, reverberada, inclusive, na lamentável live realizada no Palácio do Alvorada, na semana passada, quando houve escandaloso uso da máquina pública. Além de não provar que houve fraudes em eleições passadas, fez graves acusações a ministros do STF e TSE, até mesmo com xingamentos e ofensas pessoais. Crimes para os quais o PGR, Augusto Aras, fecha os olhos vergonhosamente. Mesmo assim, o ex-capitão insiste com essa falácia, na tentativa de mobilizar seus seguidores insanos.

Ao “armar” o desfile dos tanques e blindados da Marinha defronte as sedes do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF nesta manhã, Bolsonaro dá uma demonstração inequívoca que ele trama descaradamente contra a democracia e contra as eleições livres. Age como agiu, em 1984, o general Newton Cruz, que também promoveu ameaça parecida contra as eleições pelo voto direto. A imagem do general com seu cavalo avançando sobre os brasileiros que pediam diretas-já ainda não saiu da nossa memória e nos faz lembrar do mandatário hoje com as máquinas de guerra na Esplanada dos Ministérios, impondo um clima de terror sem precedentes, que nos faz temer a volta ao passado.

O que devemos esperar agora é que esse circo do horror ensaiado pelo mandatário hoje não ganhe força e seja contido já pelas instituições democráticas. O Congresso precisa ter autonomia e independência para derrotar o voto impresso já, sem que venham sentir o peso das armas do mandatário. O Poder Judiciário também deve continuar sua cruzada legal para impedir essa sanha golpista. O ideal é que antes de Bolsonaro perpetuar o golpe que ele deseja dar fosse apreciado na Câmara um dos pedidos de impeachment que pairam na gaveta de Arthur Lira. O Brasil que espera um futuro melhor não pode admitir retrocessos. Afinal, muitos brasileiros foram presos, mortos e torturados pela ditadura militar de 1964 para alcançarmos a plenitude democrática que temos hoje e a sociedade organizada não pode admitir que um ex-capitão alucinado nos faça retroceder.