Bolsonaro cria brasileiros de segunda classe

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(Arquivo) O presidente Jair Bolsonaro discursa em Brasília em 12 de maio de 2021 Foto: AFP/Arquivos

Em dezembro de 2019, Jair Bolsonaro anunciou que pensava em fazer algumas mudanças no programa Bolsa Família. A ideia não se resumia apenas em trocar o nome de batismo do programa para Renda Brasil. Ele queria alterar também os critérios que definiam a distribuição de renda às famílias mais pobres, com base no desempenho dos filhos das pessoas na escola. Para capitão, o assunto tinha tudo a ver com mérito – como se alguns tivessem mais merecimento para comer um prato de arroz com feijão do que outros. Como se fosse possível esperar mais de crianças famintas matriculadas em escolas públicas totalmente sucateadas.

A meritocracia sempre será questionável. Defendida por Bolsonaro, então, tem que ser ainda mais. É algo que nunca se desprendeu de seu discurso. Sempre está ali, presente, mesmo que camuflada nas entrelinhas de quem faz questão de deixar claro que, no Brasil que ele enxerga, só alguns poucos merecem mais, como se houvesse brasileiros de primeira e de segunda classe.

Um grande exemplo disso está na nomeação do ex-ministro da Saúde para um cargo no governo. O presidente convidou o general Eduardo Pazuello para assumir a função de secretário especial de Assuntos Estratégicos da presidência da República. Desempregado desde que deixou o ministério, o general, que não é bobo, aceitou.

Para esta nova função, Pazuello terá salário de R$ 16 mil, fora os R$ 24 mil que ele tem direito a receber por parte do Exército, sem exercer seu papel de general. Ou seja: no total, ele receberá R$ 40 mil. Por ano, serão R$ 480 mil – o suficiente para pagar a mensalidade de 1920 pessoas cadastradas no Bolsa Família.

Mas a pergunta que fica é: afinal de contas, o que Pazuello fez para merecer tanto esse posto com altos salários? Bom, depende do ponto de vista. Para o Brasil, nada, a não ser ter responsabilidade pela morte de milhares de brasileiros. Quando o general assumiu o Ministério da Saúde, em 15 de março de 2020, o Brasil contava com quase 19 mil mortos pela Covid-19. Ao deixar a pasta, em 14 de março de 2021, o país ultrapassava a marca dos 278 mil. Mais de 259 mil brasileiros perderam suas vidas apenas durante a sua desastrosa gestão.

Para Bolsonaro, contudo, Pazuello já fez muito. E continua fazendo. Na CPI, é o escudo do chefe. Na Saúde, nunca deixou de seguir as ordens vindas de cima. Voltar ao governo só é a coroação de seus desatinos a serviço de um governo insano. No Brasil de Bolsonaro é assim: para seus filhos e aliados, tudo. Para os demais, o rigor da lei.