Ficou para o período de final do ano a medida mais polêmica do presidente em seu mandato na sensível área de combate à corrupção, que tem o potencial mais danoso até o momento de rachar sua base. Ainda repercute a decisão de Jair Bolsonaro de sancionar vários itens do pacote anticrime que colocam um freio na Lava Jato e podem dificultar as investigações e eventual condenação de Flávio Bolsonaro.

Não há surpresa na ação, já que Bolsonaro vinha atuando desde meados de 2019 para impedir que seu filho fosse investigado e condenado no esquema da “rachadinha” da Assembleia Legislativa carioca. Para isso, teve o apoio do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que, para beneficiar o rebento, paralisou por quase seis meses todas as investigações sobre crimes financeiros no País.

Agora, dá nova rasteira no ministro da Justiça Sergio Moro, que vinha apontando o potencial danoso da criação do instituto do juiz de garantias. Em si, esse pode ser um avanço para o funcionamento da Justiça. Na prática, é uma forma de tornar as investigações mais lentas, privilegiando principalmente os criminosos de colarinho branco. A medida entra em choque frontal com a agenda de Moro. Assim, Bolsonaro diminui ainda mais seu ministro, enquanto tenta se beneficiar da sua popularidade.

Para a base bolsonarista, a iniciativa foi um desastre. A hashtag “Bolsonaro Traidor” liderou o Twitter, desagradou os apoiadores do presidente e recebeu até o apoio do histriônico ministro da Educação Abraham Weintraub – que afirmou ter se enganado, apagando o tweet em seguida. O líder da Frente Parlamentar de Segurança, o deputado Capitão Augusto (PL-SP), disse que “a paciência se esgotou”. O Ano Novo começa assim: com Bolsonaro mais afastado do que nunca do arco de alianças que o elegeu, e esgarçando ainda mais o apoio de seu ministro mais popular, Sergio Moro.