Na segunda conversa que faz com um grupo de jornalistas selecionados no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro disse confiar que a reforma da Previdência estará aprovada, tanto na Câmara como no Senado, até o final deste primeiro semestre. Para Bolsonaro, as dificuldades iniciais nas negociações com os parlamentares são naturais do jogo político. “Se alguém tiver uma maneira diferente de fazer as coisas, me fala, me ajuda”, chegou a brincar. “É muita conversa, negociação, mas se percebe que há um sentimento geral de que a reforma precisa ser aprovada. Do contrário, o Brasil quebra em 2022”. O presidente afirmou que a expectativa do governo é de que naturalmente haja modificações na proposta durante a tramitação no Congresso. “Alguma coisa vai ser mexida para aprovar. A gente quer negociar, dentro do espírito da necessidade de aprovação da reforma”.

O presidente alertou, porém, que as alterações feitas no Congresso não poderão desidratar totalmente a proposta. Ele citou o caso da Argentina, onde a proposta de mudança feita foi muito alterada e acabou não surtindo os efeitos desejados.

ISTOÉ participou do café da manhã com o presidente. Bolsonaro pretende adotar de forma rotineira o modelo de conversas informais com grupos de jornalistas. O presidente abordou com os jornalistas diversos temas, além da Previdência, que foram do assassinato da vereadora Marielle Franco ao atentado que sofreu no ano passado, passando pelo seu estado de saúde.

Bolsonaro disse estar recuperado da facada sofrida no atentado praticado por Adélio Bispo durante a campanha presidencial. “A recuperação é difícil, porque atingiu vários pontos do intestino. Mas estou bem”, afirmou. Um fato, porém, o impressionou durante o período em que esteve internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele concordou em fazer exames para verificar as condições do seu sono, a chamada Terapia do Sono. E preocupou-se em saber que o exame detectou 89 episódios de apneia em cada hora dormida. A apneia é um distúrbio que provoca paradas respiratórias durante o sono. “Detenho o recorde brasileiro de apneia”, disse, entre brincando e demonstrando preocupação.

Ao falar da prisão na terça-feira 12 dos assassinos da vereadora Marielle Franco, Bolsonaro voltou a fazer relações entre o caso e o atentado que sofreu. Da mesma forma como considera que o assassinato de Marielle ocorreu a mando de alguém, o presidente insiste na convicção de que Adélio Bispo também não agiu sozinho ao atentar contra a sua vida no ato de campanha em Juiz de Fora. “Essa é a minha convicção. Ele criou um álibi com o registro da presença na Câmara em Brasília, esteve antes no lugar em que meu filho praticava tiro. O que aconteceu em Juiz de Fora? Eu já analisava que se continuasse crescendo, iam tentar me derrubar”.

Ao falar sobre o episódio, Bolsonaro chegou a fazer avanços e recuos quanto ao que chamou de “estranho” nas circunstâncias do atentado. Inicialmente, ele disse que não encontrou no banco do carro o colete à prova de balas que geralmente usava. Em seguida, disse que não o teria procurado. Mas o fato é que naquela ocasião estava sem o colete. Disse ter se surpreendido com a multidão e ter tomado ali uma decisão de não mais se expor tanto. “Saí sem o colete. Não me preocupei em procurar”. Sobre a investigação, que até o momento tem apontado para uma ação individual de Adélio, o presidente comentou: “Não posso pré-julgar. O delegado que cuida do caso (Rodrigo Morais Fernandes) trabalhou para o governador Fernando Pimentel, do PT de Minas Gerais. Mas eu também tenho gente aqui que trabalhou com a ex-presidente Dilma”. Há um segundo inquérito sobre o atentado em andamento, que apura, entre outras coisas, quem paga os advogados de Adélio. Há uma suspeita de envolvimento do PCC, grupo que atua no crime organizado. “Dizem que quando ele entrou no presídio, foi ovacionado pelo PCC. Mas acho que qualquer um que fizesse o que ele fez seria aplaudido pela bandidagem”.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Sobre o caso Marielle, Bolsonaro rechaçou as ilações de envolvimento pelo fato de um dos presos pelo assassinato da vereadora, Ronnie Lessa, ser seu vizinho no condomínio em que mora na Barra da Tijuca, no Rio, e pela informação de que uma filha de Ronnie teria namorado um dos filhos do presidente, Jair Renan. O outro preso, Elcio Vieira de Queiroz, aparece em uma foto postada nas suas redes sociais ao lado do presidente. “Essas coisas chateiam. Não conheço essas pessoas. Perguntei para o meu filho sobre o namoro. Ele me disse: ‘Pai, eu namorei todo mundo naquele condomínio'”.

Bolsonaro falou ainda sobre a viagem que fará aos Estados Unidos no dia 19. Ele informou que assinará tratados com o presidente Donald Trump, incluindo questões tributárias e a utilização da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão. O presidente só trocará o embaixador do Brasil nos Estados Unidos depois do encontro. “Não fica bem chegar já com bilhete azul, não é?”. Para Bolsonaro, porém, a viagem será uma oportunidade de melhorar a imagem externa de seu governo, que ele reconhece, não está boa. “Nossa imagem está ruim lá fora”, admitiu. “Precisamos mudar a forma como nossa imagem está sendo vendida no exterior”.

O presidente comentou também temas como a questão indígena e a transferência da embaixada de Israel de Telaviv para Jerusalém. “Não podemos correr o risco de inviabilizar o país, de perder a Amazônia”, afirmou. Nesse sentido, ele disse que enfrentará a questão indígena para fazer passar o linhão de energia passando pela reserva Waimiri Atroari para levar luz a Roraima, eliminando a sua dependência do fornecimento da Venezuela. “Até porque em Roraima também tem um montão de índio precisando dessa energia”. Sobre a transferência da embaixada, ele comentou que a questão está sendo analisada com cuidado e sem pressa. Ele lembrou que o próprio governo Trump levou nove meses até decidir-se de fato a fazer a transferência.

Além de ISTOÉ, participaram do café os jornalistas Carlos Alberto Di Franco, de O Estado de S. Paulo; Carlos Nascimento, do SBT; Fernando Mitre, da TV Bandeirantes; Fernando Rodrigues, Poder 360; Leandro Colón, Folha de S.Paulo; Leonardo Cavalcanti, Correio Braziliense; Mariana Godoy, Rede TV; Renata Lo Prete, TV Globo; Thiago Contreira, TV Record; Paulo Enéas, Crítica Nacional, e Ruy Fabiano. Como representantes do governo, além do presidente Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão; Carlos Alberto Santos Cruz, chefe da Secretaria de Governo; Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional; Floriano Peixoto, chefe da Secretaria Geral da Presidência; Floriano Amorim, secretário de Comunicação; Otávio Rêgo Barros, Porta-Voz da Presidência; Alexandre Lara de Oliveira, secretário de imprensa da Presidência da República; Carlos Alberto Franco França, chefe do cerimonial; Didio Campos, chefe de gabinete do Porta-Voz; Flávio Pelegrino, assessor especial do Porta-Voz.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias