Bolsonaro cometeu crime ao acusar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro

Bolsonaro cometeu crime ao acusar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro

Em meio à crise em seu governo, como inflação e elevado preço dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (PL) realizou na tarde desta segunda-feira, 18, uma reunião no Palácio da Alvorada, com dezenas de embaixadores em Brasília. Na tentativa de colocar em dúvida a segurança do sistema eleitoral brasileiro, o discurso que ele fez aos diplomatas foi transmitido ao vivo pela TV Brasil, num gesto de clara campanha eleitoral, usando uma emissora pública.

Em seu pronunciamento para os embaixadores, que durou cerca de 50 minutos, Bolsonaro mencionou, especificamente, o inquérito aberto em 2018 pela Polícia Federal (PF) no qual apurou-se a invasão cibernética dos Sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Contudo, essa suposta invasão não apresentou qualquer implicação na segurança das urnas eletrônicas. A PF não encontrou registro de fraudes. Bolsonaro também mencionou um suposto vídeo, no qual as urnas eletrônicas completariam os votos dos eleitores automaticamente em 2018, o que foi comprovado não ter passado de uma armação, uma montagem.

Portanto, tudo tornou as declarações de Bolsonaro aos embaixadores como infundadas. Os diplomatas classificaram a tática de Bolsonaro de tentar desacreditar o processo eleitoral como “tática trumpista”, fazendo referência ao ex-presidente Donald Trump, que após ter sido ser derrotado por Joe Biden nas eleições americanas, afirmou sem apresentar provas que as eleições haviam sido fraudadas, ocasionando a invasão de apoiadores ao Capitólio, horas depois.

O The New York Times afirmou sobre a reunião de segunda-feira com os diplomatas que eles haviam ficado incomodados, sugerindo que Bolsonaro e seus militares deveriam participar do processo eleitoral para ”garantir eleições seguras”, reafirmando a declaração dos embaixadores de que o chefe do executivo brasileiro estaria sendo adepto ao plano de Trump.

“Assim como Trump antes das eleições de 2020 nos Estados Unidos, Bolsonaro está atrás nas pesquisas. E, como Trump, Bolsonaro parecia estar desacreditando a votação antes que ela acontecesse em um suposto esforço para reduzir a confiabilidade e a transparência”, disse o NYT.

Posteriormente à reunião, o embaixador da Suíça no Brasil, Pietro Lazzeri declarou, por intermédio de suas redes sociais que as eleições brasileiras sejam uma comemoração pela democracia. “Participei hoje no Palácio da Alvorada do encontro do Presidente da República com Chefes de Missão Diplomática. No ano do bicentenário do Brasil, desejamos ao povo brasileiro que as próximas eleições sejam mais uma celebração da democracia e das instituições”.
O encontro com o presidente dividiu opiniões. Parte dos diplomatas estrangeiros saiu do Palácio da Alvorada com dúvidas contra a suspeita de que as urnas não são confiáveis. Um embaixador latino-americano afirmou que as preocupações apresentadas pelo Chefe do Executivo são “legitimas”. Já um embaixador europeu afirmou que o resultado das eleições deve ser aceito, e que não saiu do encontro preocupado com um golpe pós-eleições. De acordo com ele, “ninguém se convenceu de que houve fraude”, mas que o sistema eleitoral poderia ser mais “auditável”. Outros disseram que o “TSE precisa aceitar alguma crítica”.

Os embaixadores também classificaram a apresentação de PowerPoint de Bolsonaro como “amador”, pois continha diversos erros de tradução nos slides que foram apresentados. Como a palavra em inglês “briefing”, que continha um “n” a mais em um dos slides apresentados por Bolsonaro como brienfing.

Posteriormente ao discurso de Bolsonaro o presidente do TSE, Edson Fachin, se manifestou por intermédio de nota, sobre os devaneios do presidente, que promoveu mentiras e acusações infundadas. “As entidades representativas, como a OAB e a própria sociedade civil, precisam fazer sua parte na garantia de que a democracia seja preservada. É importante que a sociedade civil e o cidadão entendam que esse tipo de desinformação, como a de hoje, pode continuar uma vez que ao negacionismo não interessa as provas inconsistentes e os fatos. Portanto, precisamos nos unir e não aceitar sem questionarmos a razão de tanto ataque”, afirmou Fachin.

O TSE também se manifestou por meio de nota, sobre o suposto vídeo produzido nas eleições de 2018, no qual as urnas teriam completado de forma automática os votos. “Avaliação de peritos em edição comprova que o vídeo é falso. Verificam-se cortes no filme que confirmam que houve montagem. Além disso, no momento em que o primeiro número é apertado, o teclado da urna não aparece por completo, o que sugere que outra pessoa teria digitado o restante do voto. É possível, ainda, constatar, no programa de edição, o ruído de dois cliques simultâneos, o que reforça essa tese”.

Após, as declarações de Bolsonaro na reunião com os embaixadores, deputados da oposição pediram nesta terça-feira, 19, que o STF autorize a investigação contra o mandatário, pois, de acordo com os parlamentares, o ex-capitão se utilizou de recursos públicos, como a estrutura do Palácio da Alvorada e da TV Brasil, em beneficio próprio. “O presidente deve responder por ato de improbidade administrativa ao fazer uso direto e indevido, em proveito próprio, á luz do dia, de bens públicos como a estrutura da Presidência da República e divulgação pela TV Brasil, e por fazer propaganda eleitoral antecipada, cometendo ainda abuso de poder político e econômico e crime eleitoral, agindo de maneira indigna como presidente da República,” afirma a ação.

Observa-se que este encontro com os embaixadores foi mais uma tentativa infrutífera de implantar dúvidas sobre a legitimidade do processo eleitoral. Por parte do presidente, que está com “a corda no pescoço” e com medo de perder as eleições de outubro.