Bolsonaro começa a cumprir pena de 27 anos de prisão por golpismo

O ex-presidente Jair Bolsonaro em sua residência em Brasília, 3 de setembro de 2025 - AFP/Arquivos

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) começou nesta terça-feira (25) a cumprir a pena de 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que o processo contra ele transitou em julgado.

Bolsonaro encontrava-se desde agosto em prisão domiciliar, mas no sábado foi transferido para a Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, por “risco de fuga”, após danificar a tornozeleira eletrônica que usava para monitoramento.

O Supremo declarou nesta terça-feira que o processo contra Bolsonaro transitou em julgado, segundo um documento do tribunal ao qual a AFP teve acesso. O ex-presidente ficará recluso a uma cela especial, em um quarto pequeno com frigobar, ar-condicionado e uma televisão.

É a primeira vez que a Justiça condena os responsáveis por uma trama golpista no Brasil.

Dois aliados de Bolsonaro, o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem (PL-RJ), e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que não apresentaram novos recursos, também tiveram os processos encerrados e foram sentenciados pelo Supremo a 16 e 24 anos de prisão, respectivamente.

O STF rejeitou no início do mês um primeiro recurso contra a sentença apresentado pela defesa de Bolsonaro e considerou esgotado o prazo para uma nova apelação.

“Seja como for, a defesa ajuizará no curso do prazo estabelecido pelo regimento, o recurso que entende cabível”, adiantou um de seus advogados, Paulo Cunha Bueno, um dos advogados de Bolsonaro, na rede social X.

– “Devastado psicologicamente” –

O líder de extrema direita, de 70 anos, cumprirá sua pena na própria Superintendência da PF onde encontra-se atualmente.

Jair Bolsonaro está “devastado psicologicamente”, declarou pela manhã o vereador Carlos Bolsonaro (RJ-PL), um de seus filhos, depois de visitá-lo.

Segundo o STF, a trama golpista pela qual Bolsonaro foi condenado consistiu em colocar em dúvida a validade das eleições de 2022 para declarar um estado de exceção e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O plano contemplava inclusive assassinar Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), segundo o Supremo. Mas não se consumou por falta de apoio de altos comandos militares.

Depois de três meses em prisão domiciliar, Bolsonaro tentou queimar a tornozeleira eletrônica que usava, o que precipitou sua transferência para a prisão preventiva no sábado.

A defesa do ex-presidente alegou que o incidente se deveu a um estado de “confusão mental” induzido por medicamentos, uma explicação que o Supremo rejeitou.

Bolsonaro sofre sequelas de uma facada da qual foi vítima em 2018 e toma vários medicamentos para tratar complicações derivadas desse ferimento no abdômen.

A defesa solicitou em várias ocasiões que o STF lhe conceda prisão domiciliar por considerar que o ex-presidente correria “risco de vida” se fosse encarcerado.

– “País soberano” –

Ao justificar o risco de fuga, o STF destacou que a embaixada dos Estados Unidos está localizada próxima da residência de Bolsonaro em Brasília.

Bolsonaro é aliado do presidente americano, Donald Trump, que denunciou meses atrás uma “caça às bruxas” contra ele e respondeu impondo tarifas punitivas ao Brasil.

Após se reunir com Lula em outubro, Trump retirou boa parte das tarifas impostas ao Brasil.

Lula afirmou no domingo que a detenção de seu principal opositor “não tem nada a ver” com Washington.

“Trump precisa saber que somos um país soberano”, enfatizou o presidente durante coletiva de imprensa.

Bolsonaro é o quarto ex-presidente brasileiro preso desde o fim da ditadura em 1985. Entre eles estão Lula e Fernando Collor de Mello (1990-1992), ambos por casos de corrupção.

Lula passou 580 dias detido depois de ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas a decisão foi anulada por erros processuais durante o julgamento, e o petista foi libertado em 2019.

Em abril deste ano, Collor de Mello passou seis dias em uma prisão por uma condenação por corrupção. O STF lhe concedeu depois prisão domiciliar ao considerar que o ex-presidente, de 76 anos, sofre de Parkinson e transtorno bipolar.