Durante uma live na última quinta-feira (24), ao se referir a questão das terras indígenas, Jair Bolsonaro (sem partido) citou que um “índio evoluído” poderia ter “mais liberdade sobre a sua terra”.

A declaração do presidente foi dada ao lado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Além disso, Bolsonaro lembrou um tema defendido por ele de não demarcar terras indígenas no País. O mandatário também citou o exemplo da etnia dos parecis de Mato Grosso, a qual optou pelo plantio da soja, por exemplo, promovendo “parcerias” feitas com fazendeiros.

“Olha os índios do norte do Estado do Mato Grosso, os parecis, eles estão numa situação semelhante à nossa, plantam já, cultivam”, explicou. O ministro do Meio Ambiente acrescentou: “doze mil hectares”.

“E eu gostaria que em alguns locais, né, como o índio já tá evoluído, ele pudesse realmente ter mais liberdade sobre a sua terra. Como você [Ricardo Salles] disse agora pouco, por que um fazendeiro aqui pode usar sua terra da maneira racional e pro lado de cá não se pode fazer absolutamente nada?”, completou.

Na sequência, Bolsonaro lembrou da dificuldade de fiscalização das reservas indígenas e disse que nesses locais “impera [sic] lá dentro desmandos, ilícitos também, roubo de biodiversidade, exploração aí predatória de, dos meios naturais que existem lá”.

A fala do presidente não caiu bem para a liderança da Articulação dos Povos Indígenas (APIB), Sônia Guajajara. Para ela, as palavras de Bolsonaro são “outro crime cometido pelo presidente e seus ministros”. “Querem legalizar o ilegal e se baseiam em dados falsos que tem uma única fonte: o racismo”, disse a indígena para o colunista Rubens Valente do UOL.

“Dizer que o indígena está evoluindo pressupõe que nós, indígenas, somos inferiores. É a mesma visão racista dos colonizadores genocidas. Ele não aceita o fato de nós, indígenas, termos direitos garantidos pela Constituição. Demarcar nossos territórios é um direito constitucional. Não é questão de ‘querer ou não querer’, é um dever do presidente demarcar as terras indígenas”, criticou.

A professora emérita da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora do CNPq, Alcida Rita Ramos classificou o termo “índio evoluído” como “arcaico, chulo e desinformado”.

Para a pesquisadora o uso da expressão pelo presidente é “expor um tal grau de ignorância que, francamente, não é compatível com o cargo de presidente da República”.