A cada dia que passa as crises sanitária, econômica e político-institucional ficam ainda mais graves. O governo Bolsonaro não sabe como agir de forma coordenada. Na verdade, não há mais governo. O que existe de fato
é um grupo político tentando a todo custo sobreviver em plena conjunção das maiores crises — no tempo e em profundidade — da história do Brasil. Isto levará inevitavelmente a uma catástrofe, que será ainda maior quanto mais se postergar a abertura de um processo de impeachment.

Evidentemente que para dar este passo será necessária uma hábil articulação política na esfera congressual e — de acordo com o que é possível nesta situação de anormalidade que vivemos — mobilização popular que não se resume a atos públicos. Mas, é inegável — e os fatos diários reafirmam, especialmente nos últimos meses deste ano — que não há nenhuma outra possibilidade para solucionar a crise.

O impasse político não foi edificado pela oposição. Pelo contrário, ela pouco ou nada fez. O governo foi avançando no processo de desmoralização das instituições sem que houvesse uma efetiva ação contrária, de defesa da democracia, da Constituição. As bases foram sendo sucessivamente solapadas. A timidez das respostas fez com que aumentasse a ousadia dos extremistas. Nunca na nossa história assistimos cenas, como as ocorridas, desde fevereiro, em Brasília. Jair Bolsonaro deu inúmeras demonstrações de desapreço ao nosso ordenamento legal. Transformou o Palácio do Planalto numa organização paralegal. Organizou até um sistema de informações só dele. E, pior, fez questão de publicizar este ilícito, como se fosse uma demonstração de esperteza, de alguém que não se submete à organização estatal.

Jair Bolsonaro joga com a crise. Com o aprofundamento da crise. O seu projeto pessoal de poder necessita da manutenção de um clima permanente de tensão. Pouco se importa com os milhares de óbitos. Ou com os milhões de desempregados. Para ele são fatores sem relevância. Sabe que em uma situação normal teria sérias dificuldades para terminar seu mandato presidencial.

A questão que se coloca, neste momento, é que o agravamento das três crises e a impossibilidade de enfrentá-las com êxito — não tem apoio político ou empresarial — faz com que tenha de explicitar sistematicamente seu desapreço em relação à institucionalidade e apontar para o único caminho que resta: o golpe de Estado. Todas suas ações estão voltadas a este objetivo. Como disse um dos seus filhos: só resta definir a data.

O presidente pouco se importa com os milhares de óbitos. Ou com os milhões de desempregados