Na próxima quinta-feira (2), o ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro (Podemos) lançará o seu livro “Contra o sistema da corrupção”. Na obra, o ex-juiz faz uma revisão dos principais episódios enquanto atuava na 13ª Vara Criminal de Curitiba, e na segunda parte ele dá detalhes sobre a fritura pública que sofreu do presidente Jair Bolsonaro (PL). As informações são do colunista Thiago Herdy do UOL.

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Em um dos trechos do livro, Sergio Moro conta que ao retornar de férias do Canadá, em janeiro de 2020, voltou a ser pressionado para substituir o diretor-geral da Polícia Federal. Durante uma reunião com o presidente e um outro ministro, foram apresentados três nomes para que ele escolhesse.

“Daqueles três, dois eram absolutamente inaceitáveis, por falta de histórico suficiente na Polícia Federal ou por outras questões específicas. Apenas um deles, o delegado da PF Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), me parecia aceitável, apesar de sua pouca experiência.”

A princípio, o ex-ministro concordou com a troca. “Mas, logo depois, quando refleti melhor, percebi que caíra em uma armadilha. Primeiro, porque não havia motivo para a saída do diretor-geral (Maurício) Valeixo. Segundo, embora Ramagem até aparentasse ser um bom profissional, seria visto como uma interferência do Planalto na Polícia Federal – o delegado era muito próximo da família Bolsonaro desde a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente.”

“No fundo, o principal motivo para eu mudar de posição foi que comecei a desconfiar das razões do presidente para a mudança pretendida. Por que o presidente queria tirar Valeixo, um profissional respeitado pela categoria, sem qualquer motivo objetivo, e substituí-lo por alguém de sua relação pessoal? O tempo me daria razão.”

Sergio Moro também relata outra crise com o presidente Jair Bolsonaro. Sobre a reunião, realizada em janeiro de 2020, na qual o mandatário se reuniu com os secretários de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal para estudar uma possível divisão do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A reunião foi transmitida via redes sociais.

“No mesmo dia, várias pessoas me procuraram querendo saber o que eu faria diante daquela fritura pública. Apesar do desgaste, eu estava tranquilo quanto ao rumo que devia tomar. Tinha sido convidado para ficar à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Se a pasta fosse dividida, não continuaria no governo de jeito algum.”

Diante desse e de outros episódios, Sergio Moro começou a tirar suas próprias conclusões. “Eu não poderia confiar nele, já que, com frequência, Bolsonaro recorria gratuitamente a esses expedientes reprováveis de fritura pública. Também concluí que ele simplesmente não confiava em mim e não desejava a minha presença no governo. Daí, o reiterado desejo de retirar poder de mim ou do Ministério da Justiça ou de me contrariar, como ocorreu nos episódios do Coaf, dos vetos ao projeto de lei anticrime, da separação do ministério, da substituição do diretor-geral da Polícia Federal ou do superintendente da PF no Rio de Janeiro.”