Na última semana, a Internet foi surpreendida com uma declaração honrosa, educada e de extrema coragem vinda de Marcelo Dourado. Para quem não se lembra, ele é o professor de artes marciais que participou do reality show Big Brother Brasil em sua quarta edição, e depois voltou na décima edição do programa e saiu como o grande campeão daquele ano.

Foi uma edição um tanto quanto conturbada. Ficou marcada pelos atritos entre Dourado e seu principal rival, Dicesar, que ficou em terceiro lugar na disputa, e pelas frases extremamente preconceituosas e machistas vindo do professor de artes marciais. “Orgulho hétero” e “resistência heterossexual”, eram algumas das frases proferidas por Dourado em resposta ao bordão do maquiador Dicesar: “O mundo é gay”.

O vídeo de suas falas, de tempos em tempos, viraliza na Internet. Ainda mais depois de o mesmo reality colocar como participante um homem que se diz ter orgulho de ser “hetero top”, palavra usada para descrever o homem considerado “padrão”, ou seja, branco, entre 20 e 40 anos, hétero, com uma autoestima muito alta.

Já não era sem tempo, depois de seu vídeo ser novamente muito reproduzido na Internet, Marcelo dourado resolveu se pronunciar sobre seus atos passados e se desculpou publicamente pelo “erro histórico” cometido no programa e confessou que era “ignorante”.

“Na minha cabeça limitada, eu pensava que era uma frase afirmativa, genérica. Eu não percebi a importância daquilo para as pessoas que estão envolvidas nessa comunidade e que são constantemente vítimas de violência. Ficar contra essas causas vai contra a história da minha família e contra o meu legado, de filho de refugiados. Na minha cabeça, todos devem ser respeitados igualmente”, afirmou o campeão.

Se demorou 12 anos para Dourado se retratar publicamente de falas que disse em um programa que dura em média três meses, quanto tempo pode demorar para o presidente Bolsonaro se retratar de alguns erros históricos ditos em quatro anos de mandato? Como quando ele disse para um repórter no final de 2019 que ele tinha “cara de homossexual terrível”, ou em abril de 2020, no meio da pandemia, o País registrando mais de 2 mil mortes e outros 40 mil casos, ele vocifera: “Todo mundo tem de morrer um dia (…).Eu não sou coveiro”. Sem contar as inúmeras frases ditas por ele em que desacreditava a Saúde e a Ciência, bem como os profissionais que atuam na linha de frente contra a Covid-19. Importante relembrar: a maioria das frases, ditas sem máscaras.

Espera-se que o pedido de desculpas não demore mais uma década. Nem mesmo mais um mandato.