Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro começou a semana com mais uma série de ataques ao sistema eleitoral do país, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao seu presidente, ministro Luís Roberto Barroso, a quem acusou de querer “eleições manipuladas” ou que possa “trazer incertezas no futuro”.

Os ataques a Barroso –que não será o presidente do TSE durante as eleições de 2022– foram feitas em uma conversa com apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada, e, depois, em entrevista à rádio ABC, do Rio Grande do Sul.

“O que o Barroso quer? Ele quer eleições que possam ser manipuladas. Ou, no mínimo, gerar dúvidas no futuro”, disse o presidente em entrevista à rádio.

Bolsonaro elegeu Barroso como seu principal inimigo ao tentar aprovar a Proposta de Emenda à Constituição que altera o atual sistema de votação com urnas eletrônicas, exigindo a impressão do voto. O ministro é contrário à medida, assim como a maior parte dos ministro do STF e ex-presidentes do TSE, que divulgaram nesta segunda uma nota rebatendo Bolsonaro.

“Todos os poderes têm limites. Eu tenho limites, porque alguns do STF acham que são donos da verdade, podem tudo e ninguém pode reclamar de nada?”, disse Bolsonaro à rádio. “Então ele tem que baixar a crista dele um pouquinho e se adequar à realidade.”

Bolsonaro acusa Barroso de fazer lobby para derrubar a PEC na comissão especial da Câmara, onde a proposta pode ser derrotada antes mesmo de chegar ao plenário. Em sua versão, o presidente do TSE foi ao Congresso conversar com parlamentares e fez com que mudassem votos na comissão. Na verdade, Barroso foi chamado para uma audiência pública para tratar do tema.

“Ele foi para dentro do Parlamento fazer lobby. O que ele ofereceu? O que ele tem de atraente?”, insinuou o presidente, dessa vez em conversa com apoiadores no Alvorada.

O Congresso entrou em recesso sem que a comissão votasse a proposta pelo temor dos governistas de vê-la rejeitada, já que estão em minoria, mas pode ser votada já nesta semana e a tendência ainda é de derrota. Presidentes de 11 partidos se manifestaram conjuntamente contra a PEC do voto impresso, inclusive o PP de Ciro Nogueira, atual ministro da Casa Civil.

Bolsonaro, que acusa o STF de ter liberado da prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula e ter suspenso os processos para torná-lo elegível e derrotá-lo em 2022, sem qualquer indício que aponte para essa teoria, afirmou ainda, a seus apoiadores, que tudo é parte de um mesmo esquema para que ele não seja reeleito.

“O que eles fazem: a imprensa está aí para desinformar e falar mentira. Em cima dessas mentiras, vem o Datafolha. E depois tudo aí acertado tem a contagem na sala secreta pelo seu Barroso e meia dúzia de funcionários. Está justificado”, disse.

No final de semana, Bolsonaro falou em mensagens por videoconferência para várias das manifestações a favor do voto impresso e incentivou a participação nos movimentos. Em São Paulo, para os apoiadores que se reuniram na avenida Paulista, Bolsonaro voltou a ameaçar as eleições de 2022. “Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleição”, disse.

Perguntado na rádio se confirmava a frase, Bolsonaro disse que sim, mas mudou o tom.

“Confirmo. Não haverá eleições democráticas. Qualquer um quer eleições limpas. Sem eleições limpas e democráticas não têm eleições de verdade. Tem é uma farsa, tem algo que pode se chamar de tudo, menos de eleições”, disse.

Perguntado se, mesmo sem o voto impresso seria candidato à reeleição, Bolsonaro desconversou e não respondeu. Disse apenas que quem disputa eleição não pode perder e reclamar depois, já que cabe ao TSE e depois ao STF julgar eventuais recursos.

Em uma nota, 18 ex-presidentes e futuros presidentes do TSE, incluindo nove dos ministros do STF rebateram o presidente, afirmando que as urnas são auditáveis e que não existe nenhum registro de fraude nas urnas desde sua implantação, em 1996.

“O voto impresso não é um mecanismo adequado de auditoria a se somar aos já existentes por ser menos seguro do que o voto eletrônico, em razão dos riscos decorrentes da manipulação humana e da quebra de sigilo”, afirmaram.

“A contagem pública manual de cerca de 150 milhões de votos significará a volta ao tempo das mesas apuradoras, cenário das fraudes generalizadas que marcaram a história do Brasil”, acrescentaram.