A seleção brasileira de futebol, que já vivia uma profunda instabilidade provocada pela malsinada e indesejada disputa da Copa América, além das graves denúncias de assédio sexual envolvendo o presidente da CBF, Rogério Cabloco, passa agora pela constrangedora e inopinada interferência de Bolsonaro nos bastidores da confederação esportiva.

De maneira intempestiva e inoportuna, o mandatário e seus asseclas fazem campanha explícita para tirar Tite do comando do escrete canarinho, como fez o ditador e general Emílio Garrastazu Médici na Copa de 70, ao fritar e expurgar o treinador João Saldanha. Como Tite vem se posicionando contra a Copa América, por ela colocar em risco os jogadores e os dirigentes, o insano presidente pressiona a CBF pela demissão do técnico.

Mais uma de suas cretinices. Afinal, gerir a seleção brasileira não é uma das suas atribuições. A CBF é uma entidade privada, mantida pelos clubes de futebol e não deveria sofrer ingerência governamental. O ex-capitão do Exército não tem nada que se imiscuir em sua rotina, dentro ou fora de campo. E muito menos em decisões que dizem respeito à saúde dos atletas.

Eles já deixaram claro que não desejam disputar esse torneio absurdo pelo simples fato de que estarão expostos, desnecessariamente, à infecção pelo coronavírus. Basta ver que o Brasil e os países da América Latina, que disputarão o campeonato, estão no epicentro da pandemia. O risco de contraírem a doença é gigantesco. Bolsonaro, no entanto, não está nem aí. Como sempre, despreza pela vida das pessoas. E, agora, quer promover um torneio despropositado como forma de acalentar seus sonhos ditatoriais de poder.

Tite não está sozinho na iniciativa de pregar contra a realização da “Cova América”, como ela já é popularmente chamada. Os jogadores também pensam assim e devem se recusar a participar da competição, como já afirmou o meia Casemiro, após o jogo contra o Equador, na última sexta-feira, 4. Ele deu a entender que todos os jogadores são contrários a esse projeto irracional de Bolsonaro. O próprio relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros, enviou uma carta aos atletas pedindo que se recusem a entrar em campo. É parece que é o que eles anunciarão após o jogo com o Paraguai, nesta terça-feira,8. Atitude corretíssima.E já ficou evidente que ninguém deseja a realização dessa copa.

Antes de o Brasil bolsonarista trazê-la para cá, Colômbia e Argentina já haviam se recusado a efetivá-la, exatamente pelos motivos agora expostos por Tite e seus liderados. Ao forçar a realização do campeonato e a demissão extemporânea de Tite, Bolsonaro está, mais uma vez, demonstrando que sua política irresponsável chega agora também ao futebol. E o que é pior, seguindo as trilhas dos ditadores do passado, em que o mais importante foi dar circo ao povo, ao invés de pão. Certamente ele está tentando desviar o foco da CPI, onde está nas cordas, sendo responsabilizado como um dos mentores da gestão genocida da pandemia. Esperamos que ele perca por 7 a 1 e o bom senso prevaleça: a saúde de todos precisa estar em primeiro lugar.