O governador João Doria disse que embora o PSDB tenha sido o quarto partido que mais elegeu prefeitos no País, a legenda é a maior vitoriosa deste pleito por ter feito 15 milhões de votos e agora vai administrar cidades com 24 milhões de pessoas. Segundo o governador paulista, a vitória dos partidos de centro foi uma resposta aos extremistas, tanto à Bolsonaro, quanto ao PT de Lula. “A democracia negou o extremismo e os radicais. O eleitor deu um não a eles nacionalmente”, sintetizou. Fortalecido com a reeleição de Bruno Covas, em São Paulo, e com a eleição de 179 prefeitos no estado, Doria entende estar em condições de sentar à mesa com outros partidos vitoriosos em 2020, como o MDB, DEM e PSD, “para a construção de um novo Brasil”. Aos 62 anos, ele acredita que a união dessas forças deve ter sucesso em uma grande vitória contra Bolsonaro em 2022. “De fato, o projeto de governo para um novo Brasil vai derrotar não só o bolsonarismo, como também todo o extremismo”, disse Doria em entrevista exclusiva à ISTOÉ.

O PSDB se consolidou como o quarto partido que mais elegeu prefeitos em todo o País. O senhor ficou satisfeito com esse resultado?
A forma mais correta de medir a força de um partido nas eleições é saber o número de eleitores que ele conquistou. E não o número de cidades que ele vai administrar. Não adianta administrar 50 cidades de 100 mil habitantes, em detrimento de 10 cidades com um milhão cada. O partido mais votado no Brasil nessa eleição foi o PSDB. Tivemos 15,1 milhões de votos e vamos governar 23,6 milhões de pessoas. O partido que teve mais votos foi o PSDB.

O que contribuiu para isso?
Foram os fatores que norteiam as administrações de o PSDB: o equilíbrio, a responsabilidade e a gestão dos prefeitos e dos governadores.

A vitória mais emblemática foi a reeleição de Bruno Covas e o fato de o PSDB ter eleito o maior número de prefeitos no Estado. Isso fortalece seu nome como candidato a presidente em 2022?
São Paulo fez o maior número de eleitores na história política de 30 anos do PSDB. O maior número de prefeituras e de votos também. A vitória fortalece o PSDB e fortalece todos os prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras eleitos pelo partido, e isso, obviamente, fortalece o governo do Estado de São Paulo.

Significa que o senhor já pode dar a largada para disputar a presidência em 2022?
Vocês jornalistas é que estão fazendo essa análise.

Os partidos de centro, como o PSDB, MDB, DEM e PSD, foram os grandes vitoriosos, com a eleição de 3 mil prefeitos. Essa força pode ser a base de uma aliança para 22?
É um indicador de que esses partidos unidos podem sair vitoriosos nas próximas eleições. Se somar o PSDB, o MDB, o DEM e o PSD temos 51,66% de todos os votos dados em 2020.

Esse percentual pode ser estratégico para a formulação de uma candidatura única dessas forças para 2022?
Eu diria que é o ponto mágico para nos fazer sentar à mesa e discutir essa união, mas o ideal é garantir a idealização de um plano para a construção de um novo Brasil. Com equilíbrio, discernimento, responsabilidade e contra o populismo, de direita ou de esquerda.

O senhor acha que ao não conseguir eleger Russomanno e Crivella, principalmente, Bolsonaro foi um dos grandes derrotados?
A democracia negou o extremismo e os radicais. O eleitor deu um não a eles nacionalmente.

O PT foi outro partido que saiu destroçado das eleições. Não elegeu nenhum prefeito de capital. Acha que o lulismo está sendo varrido do mapa político?
O PT realmente não ganhou em nenhuma capital. Varrido do mapa, eu acho que ainda não está. Mas está comprometido sim. O PT, nacionalmente, fez 2,9% dos votos. O partido já teve mais de 20% de votos numa eleição nacional. Diminuiu muito daquilo que já teve.

Essa derrota petista foi reflexo da prisão de Lula e da corrupção em que o partido mergulhou nos últimos tempos, desde o mensalão até o petrolão?
Foi um voto contra o populismo de esquerda, tanto quanto contra o populismo de direita. E no populismo vale tudo. Vale roubar, vale mentir, vale produzir fake news, vale ameaçar. A democracia não prevê esse tipo de comportamento.

Em São Paulo, o PSDB impôs grandes derrotas ao PT, como em São Bernardo do Campo, terra de Lula. O PT perdeu a relevância no Estado?
De fato perdeu a relevância. Quem perde é derrotado. Eu nunca vi perdedor se tornar vencedor. E nem vencedor se tornar perdedor. Quem perde, perde. Quem ganha, ganha.

Com a derrota do lulismo e do bolsonarismo, o senhor acredita que não vamos ter a polarização de dois extremos para 2022, como aconteceu em 2018?
Se esta eleição de 2020 for um indicador e um termômetro para um futuro próximo, certamente que não. Embora ainda tenhamos um longo período pela frente até as eleições de 2022. Mas, neste ano, a vitória foi do equilíbrio contra o populismo dos extremos.

O senhor disse que a união do centro é por um projeto para o Brasil, mas ele não é, antes de mais nada, para derrotar Bolsonaro?
De fato, o projeto de governo para um novo Brasil vai derrotar não só o bolsonarismo como também todo o extremismo.

Nesse quadro de alianças para 2022, o senhor incluiria o ex-ministro Moro e o apresentador Luciano Huck?
Todas as forças democráticas devem estar incluídas dentro desse programa. Sem restrições e sem discriminações. Incluindo o ex-ministro Sergio Moro e o Luciano Huck.

O senhor vem se aproximando também de lideranças de esquerda, como o senador Randolfe Rodrigues e o governador Flávio Dino. O senhor acha importante atrair lideranças da esquerda para o centro?
Eu volto a enfatizar. Nós temos que ter humildade, discernimento e capacidade de agregar as forças democráticas para construir o projeto de um novo Brasil. Sem discriminações. O senador Randolfe Rodrigues é um jovem talentoso e proeminente da política brasileira. O governador Flávio Dino é um experiente homem público.

O senhor conversaria também com Ciro Gomes ou com ele o senhor não conversa de jeito nenhum?
Neste programa para o Brasil do futuro os extremistas não se incluirão. Eu não incluiria o Ciro porque não gosta do diálogo, não pratica a humildade e nem exercita o equilíbrio. Ele não aceita o contraditório.

O ex-presidente Fernando Henrique deu uma entrevista segunda-feira dizendo que o senhor é um bom líder paulista, mas para vencer uma eleição para presidente precisaria se nacionalizar.
Primeiro, quero registrar a minha admiração e respeito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois, desejo concordar que qualquer líder que queira ser reconhecido nacionalmente necessita ser nacionalizado. Todos nós nascemos brasileiros. Mas nascemos em uma cidade e em um estado. Logo, para que você possa ter o reconhecimento da opinião pública brasileira, será importante estabelecer um programa que atenda as necessidades de todos os brasileiros, independentemente da região em que more.

O senhor acaba de tomar medidas mais duras para combater a pandemia. Seus opositores dizem que o senhor deveria ter tomado essas medidas antes das eleições. Como o senhor responde aos críticos?
Havia dois caminhos: ser populista ou salvar vidas. Eu escolhi, durante a pandemia, pelo segundo caminho, o de salvar vidas. Se eu quisesse ser populista, não teria determinado medidas restritivas. São Paulo foi o primeiro estado a adotar a quarentena, junto com o Rio de Janeiro. Foi o primeiro estado brasileiro a adotar a obrigatoriedade do uso de máscara. Foi o primeiro estado a trabalhar pela produção da vacina. E foi o estado que adotou uma posição combativa contra o negacionismo do presidente Bolsonaro.

O senhor acha que o agravamento da Covid-19 merece medidas ainda mais drásticas, como o lockdown?
O populismo de esquerda extremista defende o lockdown, que é inviável porque destrói empregos e a economia, penalizando justamente os mais pobres, numa sociedade que já é muito desigual. Já o populismo da direita radical defende que nenhum tipo de restrição seja feita. E isso impulsiona a morte, especialmente dos mais frágeis, daqueles mais vulneráveis.

O senhor diz que somente com a vacina poderemos ter mais esperança. A vacina Coronavac estará pronta para começar a imunização em janeiro. O senhor acha que se não fosse Bolsonaro, o estado já poderia ter iniciado a vacinação antes?
Eu lamento que Bolsonaro tenha sido, e continue sendo, um negacionista, classificando uma terrível pandemia como uma gripezinha ou um resfriadinho. E ainda tenha recomendado o consumo da cloroquina como medicamento para salvar as pessoas da Covid-19, quando sabemos que ele não é indicado para essa doença. Bolsonaro abandonou o Brasil e os brasileiros.

Alguns países da Europa iniciarão a vacinação na semana que vem, mas o Brasil ainda não tem nem plano nacional de vacinação. O senhor acha que essa falta de planejamento pode prejudicar a imunização em massa?
Já deveríamos ter um plano nacional de imunização, completo, detalhado e compartilhado com os governadores. Aqui em São Paulo, já temos um plano estadual de imunização desde o início do mês de novembro, pronto, elaborado pelo sistema público de saúde do estado. Enquanto isso, o governo federal somente agora começa a apontar alguns aspectos do plano nacional. Ainda assim não é de forma completa e sequer compartilhou com os estados.