O presidente Jair Bolsonaro muda tanto de ideia, feito alguém que não tem ideia de nada — não tem sequer ideia do motivo pelo qual o nada é nada. No início da sexta-feira ele insistia na absurda ideia (aquilo que não possui) de embarcar para a Rússia dentro de setenta e duas horas. No último instante Bolsonaro poderá voltar atrás, poderá seguir em frente, assim é o desnorteado mandatário que ocupa o Palácio do Planalto. E se ele de fato viajar, por qualquer ângulo que se escolha olhar a sua ida, que é oficial, ver-se-á que ela é um horror: completamente fora do tempo.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está realizando manobras militares na fronteira da Ucrânia, e promete invadi-la; EUA e União Europeia querem encontrar uma solução. Haverá guerra de mísseis? Não! Já existe guerra de egos? Sim! Bolsonaro ficará feito bobo da corte em meio a essa situação. Até aí o problema é dele, e somente dele. O nosso problema, que é o que importa, é que o presidente levará consigo o nome do Brasil.

Em outras palavras: vai parecer que Bolsonaro está dando o seu apoio à invasão? Na verdade, nenhum estadista que mereça essa designação está preocupado com o apoio de Bolsonaro e para qual direção ele vai. Bolsonaro não conta para a comunidade mundial. O problema é outro, é interno ao Brasil.

Trata-se do rompimento da política diplomática brasileira, que segue as normais internacionais e busca a interlocução, o diálogo, o entendimento. Mais: ao Brasil sempre foi dada atenção. Nesse momento, o presidente da Rússia não fala de outra coisa que não seja algo relacionado à Ucrânia. Claro que os EUA, país do qual o Brasil precisa nas relações comerciais, não aprovam a viagem. Mas o fato realmente grave é o Brasil romper com sua própria tradição nas relações diplomáticas.

É claro que com outro presidente, jamais com Bolsonaro, o Brasil poderia até ser chamado para auxiliar no encontro de uma solução negociada e diplomática. Aí, sim, a viagem estaria racionalmente justificada. Haveria um propósito, haveria uma ideia. O Itamaraty tentou fazer com que Bolsonaro mudasse de ideia. Esqueceu-se de que o presidente não a tem. A visita de Bolsonaro a Putin é igual a do amigo sem noção que chega à casa da gente domingo às oito da manhã e fica até às onze da noite.