A candidatura de Francisco Wanderley Luiz, o homem-bomba que detonou dois explosivos na Praça dos Três Poderes na quarta-feira, 13, a vereador pelo PL em 2020 está no centro das razões que podem fazer o caso travar a articulação pela anistia aos condenados pelos atos criminosos de 8 de janeiro de 2023.

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Ao site IstoÉ, o deputado Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara, afirmou não haver razão para pessimismo e reiterou que a bancada seguirá trabalhando pela anistia, mas se preocupou em afastar o autor do atentado da legenda que abriga Jair Bolsonaro e seus aliados.

“Isso [a candidatura de Wanderley a vereador] aconteceu em 2020, quando Bolsonaro e nós nem sequer imaginávamos nos filiar ao PL. Nosso partido não tem nada a ver com aquele que esse cidadão integrava“, disse Nunes. Valdemar Costa Neto, presidente da sigla, já a comandava na ocasião.

“Pela lógica, o atentado não deveria dificultar [a tramitação da anistia], porque o projeto visa combater injustiças que estão sendo cometidas com viés político. O alvo são manifestantes que estão sendo tratados como criminosos, mas estão tentando associar [os episódios] como pretexto para inviabilizar a matéria”, disse o deputado Júnio Amaral (PL-MG), ao site IstoÉ.

Para Joaquim Passarinho (PL-PA), “nunca foi fácil” aprovar a anistia. “Sempre foi e sempre será uma pauta muito difícil”, disse ao site IstoÉ.

Anistia como causa

Além do objetivo de marcar oposição às decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) que, capitaneadas pelo ministro Alexandre de Moraes, já condenaram 265 pessoas pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro, com penas que chegam aos 17 anos de reclusão — equiparáveis ao homicídio qualificado –, os bolsonaristas tentam pautar a anistia no Congresso para incluir Bolsonaro no “pacote”, o que reabilitaria o ex-presidente para as eleições de 2026. Bolsonaro disse não ter “a menor ideia” de quem seja Wanderley, a quem chamou de “maluco”.

Para Davi Tangerino, advogado criminalista e professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o atentado fez com que o caminho do Legislativo se consolidasse como o único possível para esse objetivo. “O recado institucional do Supremo está bem claro, como demonstraram as declarações do ministro Alexandre, e esse episódio ainda poderá entrar, retoricamente, como material para as próximas condenações”.

“Juridicamente, não há nenhum sinal no sentido de reversão [das condenações]. Mas o atentado atrapalha qualquer conversa no sentido de anistia”, disse ao site IstoÉ. A visão é reproduzida no Palácio do Planalto, onde Alexandre Padilha, ministro da Secretaria das Relações Institucionais, afirmou que o atentado reforçou o sentimento contrário à concessão da anistia.