Que houve muita gente na Esplanada dos Ministérios é inquestionável. Mais de 100 mil, com certeza. Em torno de 200 mil? Pode ser. Mas uma coisa também é indubitável. As pessoas foram à Praça dos Três Poderes coagidas pelo presidente da República que chegou a usar os canais de divulgação do governo para chamar os moradores de Brasília e das cidades satélites para o evento. Funcionários públicos foram obrigados a comparecer ao desfile do Sete de Setembro.

E milhares de pessoas foram ao local levadas por centenas de ônibus e veículos fretados por empresários e agropecuaristas que apoiam o presidente. Muitos chegaram na noite de terça-feira e ficaram acampados ao largo da avenida que dá acesso aos ministérios. Por óbvio, o desfile de Sete de Setembro, que Bolsonaro sequestrou como ato de sua campanha eleitoral, seria, como foi, um evento badalado. Mas, ao contrário do Sete de Setembro do ano passado, desta vez não teve ninguém tentando invadir o STF com fogos de artifício e nem o presidente xingou o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, de “canalha” ou “vagabundo”.

É que Bolsonaro sentiu que não há clima para ataques à democracia como havia no ano passado. No ano passado sim, ele se sentiu à vontade de comandar uma manifestação defronte o Quartel General do Exército, em Brasília, para conclamar seus seguidores ao golpe, à invasão do STF e ao fechamento do Congresso. Ele percebeu que a reação da sociedade civil brasileira, que desaguou no 11 de agosto em São Paulo, não lhe daria espaço para continuar insistindo na articulação do golpe. Por mais que ele ainda tenha sonhos autoritários de se perpetuar no poder e não aceitar a derrota para o ex-presidente Lula, neste Sete de Setembro em Brasília ele colocou o pé no freio. Basta ver agora como se comportará no Rio. Vale lembrar que ainda falta 20 dias para as eleições e até lá o Bolsonarinho paz e amor possa se transformar num lobo com pele de cordeiro.