Outro dia em uma coluna, escrevi que não desejo a morte do devoto da cloroquina, mas uma longa e sofrida reinfecção por coronavírus. Afinal, além de ser o que ele deseja e pratica para todos nós brasileiros, incentivando e promovendo aglomerações, vociferando contra o uso de máscaras, boicotando a vacinação etc., ele é atleta e, como tal, não sentirá nada além de uma gripezinha, um resfriadinho, até porque, como sempre diz, temos de enfrentar o vírus de peito aberto, como homens, e não como moleques, como maricas, afinal, vamos ficar trancados em casa a vida inteira? Todo mundo vai morrer um dia. E se morrer, e daí? Chame o coveiro, ué,

Por causa desse meu desejo, a internet bolsonarista entrou em modo “chilique atômico”. Fui xingado, ameaçado, praguejado. Essa gente é assim: adoram dar coices por aí, mas quando levam um saem choramingando igual a cachorrinho quando leva palmada. E interessante é a quantidade de evangélicos, supostamente homens e mulheres de Jesus, que deveriam amar e perdoar o próximo, me desejando coisas que nem o próprio capiroto teria coragem. Fora os palavrões e outras maledicências de cunho sexual, inclusive pedófilo. Além, também, de uns bombadões lutadores de Jiu-jitsu e outras artes marciais, bem ao estilo do deputado valentão, ameaçando quebrar a minha calva se me encontrarem na rua, e de uns que posam para fotos com armas de fogo, ameaçando me dar um tiro na cara. Todos devidamente incentivados por deputados bolsonaristas “democráticos”, como Carlos Jordy, Bia Kicis e Bruno Engler. Ai, ai.

Mas o chilique da vez foi do próprio amigão do Queiroz, que ficou “de mimimi e de frescura”, por causa, para não variar, da “imprensa comunista”, porque noticiou que sua mãe recebeu hoje, dia 8 de março, dia internacional da mulher, a segunda dose da vacina contra a Covid, justamente a CoronaVac, a tal da “vachina chinesa do Doria, que causa mortes, anomalias e invalidez”, e até possivelmente suicídio. Sim, é graças ao governador de São Paulo, e não ao filho ou ao general-fantoche, que a Dona Olinda está protegida e segura, porque do contrário, coitada, estaria à mercê, como 200 milhões de brasileiros, do vírus, da doença e da morte.

O pai do senador das rachadinhas – e da mansão de 6 milhões de reais – declarou: “hoje uma parte da mídia está explorando a segunda dose da vacina da minha mãe. Deixem minha mãe em paz, ela tem 93 anos de idade. Respeitem a idade dela, respeitem os problemas de saúde que ela tem. Parem de fazer essa covardia tentando me atingir de toda maneira”. Quem diria, hein? Falou a mesma pessoa que, semana passada, foi capaz de dizer, sobre mais de 260 mil mortos: “Temos de enfrentar nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”. E mais (sobre compra de vacinas): “Tem idiota que diz ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe”. Bonitinho, né? Além disso, mentiu, como de costume, ao afirmar que a mãe teria tomado outra vacina, a da Oxford/Astrazeneca, apenas para não reconhecer – e agradecer! – a competência de João Doria e do Instituto Butantan.

Quem quer respeito pela mãe, meu caro marido de receptora de cheques de milicianos, tem primeiro que respeitar a mãe dos outros. Quem quer ser bem tratado, primeiro tem que tratar bem. Como é mesmo o ditado que aprendemos na infância: “não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você”? Então. Reciprocidade, Bolsocaro! Como diria o grande São Francisco de Assis: “amar, que ser amado. Pois é dando, que se recebe”. Deu para entender ou preciso desenhar? Um abraço aí, talquei.