A economia brasileira começou o ano muito mal. A instabilidade do cenário político, o aumento do desemprego, o aprofundamento do déficit fiscal e a escassez de crédito contagiaram empresários e consumidores, que adiaram decisões de compras e investimentos, aprofundando ainda mais uma crise que já era real. Em março, a Moody’s se tornou a terceira agência de classificação de risco a retirar o selo de bom pagador do País e, no mês seguinte, a confiança dos brasileiros chegou ao pior nível em 11 anos. No mercado de ações, regido por expectativas, o pessimismo também prevalecia. A esse cenário macroeconômico deteriorado, somava-se a queda nos preços das matérias-primas negociadas no mercado internacional, as commodities. Em janeiro, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo e que serve de referência para todo o mercado acionário brasileiro, flutuava ao redor dos 37 mil pontos, menor nível em sete anos. A virada, que parecia tão distante, começou a acontecer – e a Bolsa recuperou o fôlego perdido. Só neste ano, o Ibovespa, índice que mede o movimento das ações, subiu mais de 30% e agora opera com 57 mil pontos.

CURTO PRAZO Ilan Goldfajn, presidente do BC: perspectiva de estabilização.
CURTO PRAZO Ilan Goldfajn, presidente do BC: perspectiva de estabilização. (Crédito:ANDRESSA ANHOLETE)

A alta veio acompanhada de uma mudança no governo e na equipe econômica e nas perspectivas positivas que ela provocou. Também foi puxada pelo setor de metalurgia e siderurgia e empresas como Vale, CSN, Usiminas e Gerdau, favorecidas pela valorização do minério de ferro. “O preço do petróleo, outro item importante para a bolsa brasileira, está oscilando, mas está subindo”, afirma Fernando Siqueira, estrategista do Citi. “Para ajudar, as pessoas agora estão vendo uma luz no fim do túnel e os dados de atividade econômica mostraram estabilização ou melhora.” A pesquisa Focus, que toda semana mede as projeções do mercado para a economia, apresentou alívios significativos para a inflação e retração do Produto Interno Bruto (PIB) se comparada com os dados do início do ano.

O pior já passou

“A nova equipe econômica tem comportamento mais rígido em relação à inflação e à política fiscal”, diz Marcos Piellusch, pesquisador do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), que cita os planos de privatização, de reforma da Previdência e da criação de um teto para as despesas públicas como boas sinalizações do governo para o mercado. “Uma transparência maior do Banco Central e do Ministério da Fazenda também reduziu a percepção de risco dos investidores.” A sensação do mercado é que o pior já passou. Segundo a ata da reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), agora sob o comando do economista Ilan Goldfajn, há uma perspectiva de estabilização no curto prazo. “Em particular, há sinais de interrupção da queda do investimento e da produção industrial”, diz o documento. Ainda que o Copom tenha indicado que isso poderá demorar a acontecer por causa da persistência da inflação, os analistas mais otimistas já apostam para uma queda da taxa básica de juros, hoje em 14,25% ao ano. Essa expectativa impulsiona setores mais sensíveis aos juros, como o imobiliário.

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A evolução positiva do cenário brasileiro coincidiu com um momento de liquidez no mercado financeiro internacional. Isso porque os bancos centrais de Japão, Reino Unido e União Europeia mantêm uma política de juros baixos para estimular suas economias, o que incentiva parte dos investidores a se arriscar em países emergentes para ter retornos maiores. Como os investidores costumam antecipar movimentos, como ocorreu com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, parte do mercado acredita que, em breve, o Brasil deverá melhorar sua classificação de risco nas agências internacionais e recuperar o grau de investimento – importante para atrair mais capital estrangeiro. Seguindo essa tendência, até dezembro o Ibovespa deve ultrapassar os 60 mil pontos, índice que não atinge há dois anos.

E o pequeno investidor, como fica?

Em momentos de desvalorização, é comum que o pequeno investidor se desespere e queira se desfazer de seus ativos a qualquer custo. Para quem superou esse sentimento em janeiro, a palavra-chave agora é a mesma de antes: paciência. Como a perspectiva é que a Bolsa continue subindo, os analistas recomendam esperar para realizar o lucro.

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