A Bolívia elegerá presidente em um segundo turno entre Rodrigo Paz, um senador de centro-direita, que se converteu na surpresa da jornada, e o ex-presidente de direita Jorge “Tuto” Quiroga, segundo as projeções de duas empresas de pesquisas divulgadas neste domingo (17).
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Paz, de 57 anos, filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), quebrou todas as previsões ao se impor no primeiro turno, com 31% dos votos, de acordo com as apurações rápidas da Ipsos-Ciesmori e da Captura Consulting.
Com 27%, Quiroga ficou em segundo lugar. Se as tendências se confirmarem, os dois se enfrentarão no segundo turno em 19 de outubro.
Nenhuma pesquisa antecipou a passagem de Paz para o segundo turno.
O senador, que cresceu no exílio por causa da perseguição que seus pais sofreram durante as ditaduras militares, superou o grande favorito das sondagens, Samuel Doria Medina, que somou 19% dos apoios.
As eleições confirmaram a rejeição ao Movimento ao Socialismo, que governou durante 20 anos, primeiro com Evo Morales e depois com Luis Arce, hoje adversários.
Os bolivianos votaram em meio a uma grave crise econômica pela escassez de dólares e combustíveis e com uma inflação anual de quase 25%, a maior em 17 anos.
Durante a administração de Arce, a Bolívia, outrora rico produtor de gás e com importantes recursos de lítio por explorar, quase esgotou suas reservas em dólares devido aos subsídios aos combustíveis que chegam aos 11,3 milhões de habitantes.
Alba Luz Arratia, de 18 anos e prestes a ingressar na universidade, votou confiante na mudança. “Estamos em uma situação muito difícil, mas sim temos esperança de que tudo saia bem”, afirmou após votar pela primeira vez.
Mais de 7,9 milhões de bolivianos também votaram para renovar o Congresso de 166 membros.
O fim de um ciclo
Quase em uníssono, os candidatos prometeram uma mudança para este país após duas décadas de governos do MAS.
“A Bolívia precisa de estabilidade, governabilidade e gerar uma mudança na economia que não seja uma economia para o Estado, mas uma economia para o povo”, afirmou Paz após votar na cidade de Tarija, no sul da Bolívia.
Quiroga também se comprometeu com uma etapa que, segundo ele, será pacífica e democrática.
“A Bolívia vai ser exemplo para o mundo, pela forma como vamos mudar pacífica e democraticamente depois de 20 anos de abusos”, declarou o candidato do movimento Libre ao votar.
Quiroga foi mandatário entre 2001 e 2002, quando, sendo vice-presidente, assumiu o poder em substituição a Hugo Banzer, um ex-ditador dos anos 70 que depois foi eleito democraticamente, mas renunciou ao adoecer de câncer.
Paz e Quiroga coincidem em seu propósito de que Evo Morales preste contas à Justiça.
“Sem legitimidade”
Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, que governou entre 2006 e 2019, tentou competir nesta eleição por um quarto mandato.
Uma decisão judicial o impediu ao proibir a reeleição por mais de uma vez. Além disso, enfrenta uma ordem de prisão pela suposta exploração de uma menor quando era presidente, acusação que ele nega.
O líder cocaleiro, de 65 anos, que durante sua gestão conseguiu reduzir a pobreza e triplicar o PIB com seu plano de nacionalizações, rompeu de forma irreconciliável com Arce, o que implodiu o MAS.
Desde outubro, encontra-se resguardado em um pequeno povoado no centro da Bolívia, onde simpatizantes o protegem para evitar sua detenção. Desvinculado do MAS, fez campanha pelo voto nulo.
Neste domingo saiu de seu refúgio para votar. “Esta votação vai demonstrar que é uma eleição sem legitimidade”, disse, e assegurou que “se não houver fraude”, o voto nulo sairá “em primeiro lugar”.