Os bolivianos irão eleger novos governadores e prefeitos neste domingo (7), em uma votação muito complicada, segundo as pesquisas, para o partido de esquerda do presidente Luis Arce e seu mentor Evo Morales nas quatro principais cidades do país.

Este será o primeiro termômetro eleitoral para o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) desde que Arce chegou ao poder em novembro. Ele enfrenta um conglomerado de partidos de direita e de centro.

“Duas forças opostas estão jogando”, afirmou à AFP o analista político Carlos Borth, referindo-se aos dois blocos que brigam entre si incansavelmente há 20 anos.

O forte confronto marca a política boliviana desde quando o esquerdista Morales tomou há duas décadas as rédeas da oposição dos governos neoliberais, até que provocou a renúncia do presidente centrista Carlos Mesa em 2005. No ano seguinte, o líder indígena assumiu a presidência.

Quando Morales se viu envolvido na polêmica sobre os resultados das eleições de 2019, seus adversários, incluindo Mesa, pagaram na mesma moeda e o fizeram renunciar.

– “Resultado incômodo” –

“O MAS vai buscar a possibilidade de uma extensão de seu domínio territorial político e reduzir a representação política da oposição”, explica o acadêmico e analista político Marcelo Silva.

Duas pesquisas dos canais de televisão privados Unitel e Red Uno antecipam uma derrota do partido no poder nas quatro maiores cidades do país: El Alto, La Paz, Cochabamba e Santa Cruz.

“Nas eleições subnacionais (locais) de 2010 e 2015, o MAS não conseguiu sair vencedor nas principais capitais de departamentos”, recorda Borth.

Silva afirma que um revés para essas cobiçadas quatro cadeiras seria “muito incômodo para o presidente Arce, porque ele terá que conviver” com opositores eleitos pelo povo para esses governos locais.

Ambos os especialistas acham que Arce teve pouca influência nesta campanha. “Seu apoio foi irrelevante e de pouco peso” para os candidatos do MAS, ressalta Silva, enquanto Borth o considera “bastante duvidoso”.

Segundo o último, Arce “não reflete a esmagadora vitória de 55%” dos votos que teve nas urnas há apenas cinco meses.

– De aliada a adversária –

Morales renunciou após uma forte revolta promovida por líderes da oposição, que denunciaram uma fraude na reeleição do político indígena durante as eleições de outubro de 2019.

Jeanine Áñez, de direita, o sucedeu, mas 11 meses depois o MAS voltou ao poder com a vitória esmagadora de Arce.

Áñez é candidata a governadora da região amazônica de Beni (nordeste), enquanto o líder civil de direita Luis Fernando Camacho tenta se eleger para o mesmo cargo em Cruz (leste), a região mais rica da Bolívia.

Iván Arias, ex-ministro de Áñez, concorre à prefeitura de La Paz e o ex-candidato à presidência Manfred Reyes Villa, refugiado nos Estados Unidos durante o governo de Morales, pleitea o município de Cochabamba (centro).

Eva Copa, a ex-chefe do Senado que liderava a oposição a Áñez, deixou o MAS e se tornou uma grande dor de cabeça para seu antigo partido: sua vitória parece certa em El Alto, cidade vizinha a La Paz, um tradicional reduto de Evo.

– Lenta apuração –

Cerca de 7,1 milhões de bolivianos foram convocados às urnas para escolher os nove governadores e 336 prefeitos do país, além dos membros das respectivas assembleias departamentais e conselhos municipais.

Serão as segundas eleições no meio da pandemia da covid-19 e, após oito horas de votação, uma lenta apuração será iniciada.

Nenhum resultado oficial sairá no mesmo dia, mas haverá projeções de boca de urna e contagens rápidas dos canais de televisão, que no passado serviram para alguns proclamarem sua vitória ou admitir sua derrota.

O Tribunal Supremo Eleitoral estima que divulgará os resultados oficiais em no máximo 10 dias.

Os prefeitos são eleitos por maioria simples. Os governadores vencem no primeiro turno se obtiverem 50% mais um voto. Caso contrário, devem ir para o segundo turno em 11 de abril.