Até o momento, os números impressionantes de expansão da Bolsa foram motivo de comemoração. Não apenas representam um efeito positivo da baixa nas taxas de juros, que moveu os investidores para o mercado de ações, como também um sinal de confiança na retomada econômica. Agora, gestores começam a questionar os perigos desse fenômeno. A senha para o questionamento foi dada por um dos mais respeitados gestores de fundos do Brasil, Luis Stuhlberger, da Verde Asset Management. “No Brasil existe o efeito bolha na Bolsa. Os órfãos do CDI estão diversificando tudo o que aparece. É bom para a economia, mas pode ser muito ruim para os investidores desses mercados”, afirmou.

“Os órfãos do CDI estão diversificando.
É bom para a economia, mas pode ser muito ruim para os investidores desses mercados”
Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset Management (Crédito:Divulgação)

Economistas acham que o crescimento da Bolsa é natural, e as ações ainda estão baratas seguindo indicadores como preço sobre lucro. A perspectiva de aquecimento da economia e de entrada de dinheiro com as privatizações justificam a visão positiva. “Tecnicamente não vejo, é cedo para dizer que é uma bolha”, afirma Joelson Sampaio, da FGV. Ele acha, no entanto, que este é um momento de otimismo excessivo e alguns ativos estão superavaliados. A “overreaction” ocorre, entre outras razões, porque a Bolsa foi muito afetada pela última recessão. Mas o economista vê um movimento benéfico. “A Bolsa está se mostrando uma opção cada vez mais viável de investimento para os brasileiros. As empresas a veem como uma forma de financiar seus projetos. O ciclo é positivo para a economia.”

Em quatro anos, triplicou o número de investidores individuais na B3. Eram menos de 600 mil em 2016. Hoje, são 1,7 milhão. Nesse período, o volume diário negociado cresceu 130% e o principal índice da Bolsa, o Ibovespa, saltou de 60 mil para mais de 115 mil. Pela primeira vez desde 2014, o brasileiro é maioria na Bolsa, representando 52% dos investidores. Já os estrangeiros estão fazendo o sentido inverso. Retiraram cerca de R$ 40 bilhões em 2019. Este ano, a B3 já tem um saldo negativo de R$ 19,2 bilhões em direção ao exterior. Mas até esses números superlativos não preocupam Sampaio, da FGV. “A saída dos estrangeiros é positiva. Tem mais a ver com razões externas do que com nossa realidade”, diz.

SELIC em 4,25%

Boa parte da corrida à Bolsa tem a ver com a baixa no rendimento de aplicações em renda fixa, que embutem menos riscos e são atreladas, direta ou indiretamente, às taxas básicas de juros, que estavam entre as mais altas do mundo. Hoje, essa realidade mudou. A Selic caiu para o menor nível da história. Na quarta-feira, 5, o Copom renovou o recorde de queda da taxa, para 4,25%. Em 2016, era mais que o triplo disso: 14,25%. “Somos um país atípico em relação ao resto do mundo. Agora, todo investimento de renda fixa ficou menos interessante. Algum risco vai precisar ser tomado. O investidor era preguiçoso, mas não existe outra maneira de compor a sua carteira”, diz VanDyck Silveira, CEO da Trevisan Escola de Negócios, para quem não se pode falar em bolha nesse momento. “Seria uma bolha se existisse um descompasso entre crescimento [da economia] e os ativos”. Segundo ele, a alta na renda variável é uma tendência que veio para ficar. Porém, quem entrar agora não vai se beneficiar tanto. Expansão como aconteceu no ano passado, de 39% ao ano, será difícil. “A grande alta aconteceu do final de 2018 para cá. Daqui para a frente os ganhos serão menores.” Acima de tudo, analistas apontam a necessidade de educação financeira para uma nova geração de investidores.