Analistas ponderavam nesta quarta-feira sobre o anúncio feito mais cedo pelo Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês). Em sua decisão de política monetária, a instituição manteve a política econômica em geral, porém a novidade foi a introdução de uma meta de 0% para o juro do bônus de 10 anos do governo local (JGB, na sigla em inglês).

Na avaliação de Yue Bamba, estrategista-chefe de investimentos para renda fixa no Japão da BlackRock, a medida do BoJ foi uma tentativa de restaurar a credibilidade para uma política que “não depende da quantidade de compras, mas gera uma estrutura na política que permanece acomodatícia”. Segundo o economista, ao se concentrar nos níveis da curva de juros, o BoJ ganha flexibilidade para comprar menos bônus do governo japonês.

Estrategista sênior da Sumitomo Mitsui Asset Management, Masahiro Ichikawa concordou que com a novidade o BoJ ganha mais flexibilidade na condução da política monetária. Segundo ele, haverá agora um grande foco nos mercados sobre se a instituição conseguirá manter a curva de juro do JGB acentuada.

Para Koji Toda, gerente chefe de fundos do Resona Bank, o anúncio de hoje foi uma “clara” mudança na política do BoJ, que “presta atenção para os efeitos adversos das taxas negativas” de juros adotadas anteriormente. Parte do mercado temia que o banco central pudesse levar mais os juros para o território negativo, o que pressionaria os bancos – o setor financeiro teve um dia positivo na Bolsa de Tóquio após o anúncio de hoje do BoJ.

Codiretor de pesquisas econômicas da Ásia para o HSBC, Frederic Neumann disse estar “um pouco desapontado” com a decisão. Segundo André de Silva, diretor global de pesquisas em taxas de mercados emergentes do mesmo banco, a instituição não conseguiu atender às expectativas. A dupla diz que o mercado não duvida do desejo do BoJ de impulsionar a inflação japonesa, mas investidores começam a duvidar da sustentabilidade e da capacidade da estrutura monetária do banco central. “Nós não acreditamos que nada revelado hoje acabará com essas dúvidas”, avaliam.

O economista-chefe para Japão do JPMorgan, Masaaki Kanno, vai mais longe e afirma que o BoJ “não é sério” sobre sua meta de 2% de inflação. “Se o banco fosse sério sobre atingir a meta de inflação de 2% mais cedo que mais tarde, o BoJ deveria ter relaxado [a política monetária] hoje, inclusive com um corte de juros”, aponta. Segundo Kanno, o anúncio de hoje não traz novos instrumentos para chegar à meta de 2% de inflação mais rápido, num momento em que poucas pessoas no mercado acreditam que essa meta possa ser atingida em breve. Para o analista, a instituição mostrou-se preocupada com o limite dos instrumentos atuais e com o impacto negativo da política de taxas de juros negativas.

Marchel Thieliant, economista para Japão da Capital Economics, acredita que um motivo para o BoJ não cortar mais os juros foi o temor de que isso pudesse fortalecer mais o iene. Para Thieliant, o anúncio de hoje “não foi um afrouxamento em si”, mas a instituição mostra que deseja ser vista como fazendo “tudo o que eles podem para a economia”.

Analistas disseram também que, após um momento inicial de euforia com o anúncio, os investidores adotaram uma postura mais cautelosa e buscavam entender melhor o anúncio. Houve no comunicado muitas “palavras pouco usuais, não familiares e técnicas”, segundo Takashi Hiroki, estrategista-chefe da corretora Monex Securities em Tóquio. De acordo com Hiroki, o mercado ainda quer saber o ritmo que o banco central pode manter para buscar a meta de 2% de inflação e também o quanto de controle o BoJ pode garantir para manter os níveis da curva de juros dos bônus. “O mercado ainda está confuso”, disse. Com informações da Dow Jones Newswires.