O grupo Universal Music comprou os direitos do catálogo completo das canções de Bob Dylan, uma das aquisições mais importantes na história da música, anunciou a empresa em um comunicado nesta segunda-feira, 7. O acordo envolve mais de 600 canções, incluindo as mais famosas do único cantor que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura (2016), assim como títulos icônicos dos anos 60 como Blowin’ In the Wind, The Times They are a-Changing ou Like a Rolling Stone. Também inclui suas músicas mais recentes, como Murder Most Foul, uma canção-poema de 17 minutos que fala sobre o assassinato de John F. Kennedy.

A gravadora não especificou o valor da compra. Segundo o jornal The New York Times poderia superar 300 milhões de dólares. “Não é nenhum segredo que a arte de escrever canções é a chave fundamental de toda boa música, e não é nenhum segredo que Bob é um dos maiores mestres desta arte”, disse o presidente da Universal Music Group, Lucian Grainge, no comunicado. “Não é exagerado dizer que seu trabalho impressionante é merecedor do amor e da admiração de bilhões de pessoas em todo o mundo. Não tenho nenhuma dúvida de que nas décadas, se não nos séculos a seguir, a música de Bob Dylan continuará sendo cantada, interpretada e muito querida em todos os lugares”, acrescentou. Com 79 anos, Bob Dylan, que estreou no Greenwich Village no início da década de 1960, vendeu mais de 125 milhões de álbuns e até antes da pandemia continuava fazendo shows com frequência. Em junho, 58 anos após seu primeiro disco, ele lançou seu primeiro álbum de canções originais em oito anos, Rough and Rowdy Ways, do qual faz parte Murder Most Foul.

Esta pode ser a negociação de maior vulto financeiro feito em uma única ação, segundo o jornal The New Work Times. “Não é segredo que a arte da composição é uma chave fundamental para toda boa música, assim como também não é segredo que Bob é um dos maiores praticantes dessa arte”, afirmou presidente-executivo do Universal Music Group ao anunciar o acordo. Bob Dylan ainda não comentou a negociação.

Não precisa voltar aos primórdios ou ir aos clássicos para saber do potencial da obra de Dylan. O álbum Modern Times, lançado em 2006, quando o próprio CD já era um objeto do passado, foi direto para a primeira posição na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos. “Modern Times (Tempos Modernos) chegou ao primeiro lugar na lista dos 200 mais vendidos da Billboard. É a primeira vez em 30 anos que um álbum deste artista (Dylan) chega ao topo”, informou a gravadora que agora tem a obra do artista nas mãos. Seu último trabalho a chegar à primeira posição da Billboard havia sido Desire, de 1976. Em apenas oito dias, Modern Times vendeu mais de 192 mil cópias nos Estados Unidos.

Caso Jackson-Beatles

Mesmo sem ter os valores relevados pela companhia, Bob Dylan deve ter levado uma bolada histórica em um negócio certamente firmado em páginas de um contrato repleto de cláusulas. A história remete imediatamente à compra mais surpreendente realizada no mundo dos gigantes do pop. Em 1985, Michael Jackson autorizou seu representante financeiro John Branca a pagar 47,5 milhões dólares para a compra da empresa ATV, que detinha os direitos autorais de vários sucessos dos Beatles, como Yesterday, Come Together e Hey Jude. Hoje, a empresa, fundida à Sony, vale cerca de US$ 2 bilhões. A parte de Jackson segue com seus herdeiros.

Michael Jackson foi implacável em sua ambição, e quem o avisou de que investir em catálogo musical era muito melhor do que comprar imóveis, iate ou ouro foi quem? Paul McCartney. A história se deu em uma noite de 1981, na casa do ex-beatle, nos arredores de Londres. Paul mostrou um fichário a Jackson com uma lista de todas as músicas cujos direitos de publicação pertenciam a ele. Michael jamais havia pensando que seria possível comprar aquelas preciosidades, e ouviu atentamente o amigo. Também sem imaginar que os direitos de suas próprias canções poderiam ser comprados por Michael, Paul abriu o jogo. “Isto é o que eu faço. Comprei o catálogo do Buddy Holly, um catálogo da Broadway”, disse a Jackson.

Michael, com um dinheiro que não cabia mais em sua conta bancária, procurava investimentos seguros e ficou deslumbrado com a possibilidade de comprar um bem imaterial que jamais alguém poderia roubar. Ele então consultou os advogados de Yoko Ono e de Paul McCartney, mas nenhum deles mostrou interesse em pagar a fortuna pelas próprias músicas que haviam criado. Paul se arrependeria da venda.