A ociosidade atual da economia permite que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,5% ao ano, até 2023, sem gerar pressões inflacionárias, mas, para ir além, o grande desafio é ampliar a produtividade, afirmou nesta quinta-feira, 22, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira. Segundo o executivo, para ampliar a produtividade é preciso investir em infraestrutura.

“O que precisamos, portanto, é aumentar fortemente o investimento em infraestrutura. O papel do BNDES (na infraestrutura) não é só o de financiar, mas o de estruturar grandes projetos para o País”, afirmou Dyogo, em palestra durante almoço promovido pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Segundo Dyogo, não faltam recursos. O presidente do BNDES calculou em R$ 6 trilhões o total de recursos investidos em fundos de renda fixa, fundos de pensão, “family offices” e nos fundos de seguradoras. “Não há falta de recursos no BNDES, no mercado privado nacional e com investidores internacionais. O que tem faltado é segurança, estabilidade regulatória e elaboração de bons projetos”, disse.

Privatizações

Dyogo afirmou que o BNDES segue como instituído nos anos 1990, como o agente operacional do Programa Nacional de Desestatização (PND). Ao ser questionado sobre a proposta do futuro governo Jair Bolsonaro, de criar uma Secretaria de Privatizações, ele disse que o banco tem plenas condições de seguir com a função operacional, independentemente de haver outros órgãos responsáveis por coordenação política na área.

“Espero nos próximos anos que tenhamos a satisfação de ter um grande programa de privatizações e concessões de infraestrutura”, afirmou. “O BNDES está plenamente preparado para ser o agente operacional desse processo”, completou o executivo.

Dyogo lembrou que o banco trabalhou recentemente na privatização de cinco distribuidores da eletricidade que eram da Eletrobras e que possui cerca de 20 projetos em carteira nessa área.

Participações

O BNDES pretende vender R$ 12 bilhões em participações acionárias até o fim deste ano, afirmou Dyogo. As vendas de ações fazem parte de um reposicionamento da carteira de participações do banco, no qual não fará mais sentido ter papéis de grandes empresas, como Vale, Eletrobras e JBS. “Faz sentido ter participação acionária em empresas que estão crescendo”, afirmou.

Após a palestra, Dyogo disse a jornalistas que, até outubro, o banco de fomento vendeu em torno de R$ 8 bilhões em ações. Os valores não incluem a participação que caberá ao BNDES no processo de fusão da Fibria com a Suzano, algo na casa de R$ 8 bilhões.

Transição

Dyogo afirmou ainda que as equipes da instituição de fomento já passaram informações para a transição ao governo de Jair Bolsonaro. Ainda não houve, contudo, reunião com o futuro presidente do banco, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy.

“Vamos começar uma interação mais amiúde nos próximos dias”, afirmou Dyogo, que classificou o processo de transição como “tranquilo”.

Corrupção

Dyogo voltou a rebater nesta quinta-feira as acusações de que a instituição seria uma “caixa preta”, como disse o presidente eleito Jair Bolsonaro.

“O BNDES é hoje o banco mais transparente do mundo. Nenhum banco publica 100% de suas operações no site”, afirmou, numa referência à seção BNDES Transparente, que disponibiliza, na internet, uma série de informações detalhadas sobre os contratos de financiamento, como taxas, prazos e garantias.

Dyogo também defendeu o corpo técnico do banco. “Não há nenhum empregado do BNDES sequer delatado”, afirmou. “O BNDES foi objeto de auditoria e investigação. Não há até o momento nenhuma evidência de que tenha havido ato de corrupção dentro do BNDES”, completou.

O presidente do BNDES reconheceu que há operações passíveis de crítica, mas defendeu inclusive o financiamento às exportações. “Tudo o que foi financiado pelo BNDES gera emprego, renda e atividade econômica no Brasil. Nenhum país decente deixa de apoiar suas exportações”, afirmou Dyogo, lembrando que países como Estados Unidos, Canadá e Alemanha têm instituições de financiamento ao comércio exterior.

Financiamentos

Dyogo afirmou que a instituição de fomento seguirá como a principal responsável pelo financiamento de longo prazo na economia brasileira nos próximos anos, mesmo com uma mudança em seu papel, diante de um cenário de juros mais baixos.

Ele se disse “convicto de que o mercado de capitais está pronto para desabrochar”, mas ressaltou que esse processo levará tempo. “O BNDES vai continuar como principal financiador de longo prazo porque vai levar um certo tempo até que o mercado de capitais seja o financiador de longo prazo”, afirmou.

O executivo alertou que, nesse processo de substituição, o BNDES não pode “deixar um vazio”. “À medida que o BNDES vai saindo, o mercado vai entrando”, afirmou.

O presidente reafirmou ainda a perspectiva de desembolsos na casa de R$ 70 bilhões neste ano. Segundo Dyogo, embora os desembolsos amarguem queda de 13% no acumulado de janeiro a outubro, as aprovações de novos empréstimos já registram alta de 10% no mesmo período. A aposta é que a demanda maior no fim do ano impulsione as liberações em novembro e dezembro.