Os Estados Unidos se aquietavam após a onda avassaladora dos Beatles – e dos anos 60 como um todo – quando Joni Mitchell formou sua comunidade de músicos em Laurel Canyon, na Califórnia. O cotidiano daquela vizinhança, que incluía David Crosby, Graham Nash, Neil Young e outros nomes lendários, já havia inspirado seu terceiro álbum de estúdio, Ladies of the Canyon, lançado em 1970. Mas foi no ano seguinte, com Blue, que Mitchell sintetizou à excelência a calmaria hippie do momento e do local, se consagrando como uma das maiores compositoras vivas e alcançando outro patamar de aclamação da crítica.

Para celebrar o disco, que completa 50 anos nesta terça-feira, 22, a cantora lança um EP com cinco faixas que vão de demos (é o caso das clássicas California e A Case of You) a gravações raras, quase inéditas, como Urge for Going acompanhada de cordas e Hunter – esta última havia sido lançada apenas em um álbum beneficente do Greenpeace.

O lançamento traz uma versão prévia de A Case of You com versos e tom diferentes, gravada antes de Mitchell desajustar a afinação de seu violão para, segundo ela, “transmitir seus sentimentos com mais fidelidade”. É mais parecida com a versão final, embora menos polida, a demo da faixa seguinte, California, na qual Mitchell lamenta a falta dos amigos de Laurel Canyon durante uma viagem à França – “é tão solitário andar na rua e vê-la cheia de estranhos”.

Considerado pela Rolling Stone como o terceiro melhor álbum de todos os tempos, Blue impressionou à época por mostrar uma artista no auge de seu lirismo, com letras profundamente honestas e reveladoras. Ao desnudar seus relacionamentos em faixas como My Old Man e The Last Time I Saw Richard, Mitchell subvertia o paradigma das canções feitas por mulheres. Os homens, em seu trabalho, eram problemáticos em vez de superiores, frágeis em vez de porto seguro, e, sobretudo, eram o motivo de sua tristeza, ou blues.

Cinquenta anos depois, o legado do disco está por toda parte: de Lorde, que cita Blue como uma de suas inspirações para o Melodrama; a Lana Del Rey, que empresta as ‘Vogues e Rolling Stones’ de California para sua própria faixa de mesmo título, e que incluiu um cover de Joni em seu último álbum; a Taylor Swift, outra fã declarada. Até a cantora Clairo, de 22 anos e estilo voltado ao bedroom pop, cita Joni Mitchell como conselheira amorosa em uma de suas canções, mostrando que a influência do disco alcança também a geração mais jovem.

Clique aqui e ouça o EP Blue 50 (Demos & Outtakes), de Joni Mitchell.