A conferência da ONU sobre o clima (COP28) permaneceu, nesta terça-feira (12), bloqueada sobre o futuro dos combustíveis fósseis, o grande obstáculo que impediu quase 200 países de fecharem uma declaração final.

As negociações continuaram para a elaboração de um novo rascunho, após expirar o prazo oficial para encerramento do evento de Dubai, o maior da história.

O projeto rejeitado propõe “reduzir” progressivamente o uso do petróleo, gás e carvão, entre agora e 2050, em vez de “eliminar”, como pretende a grande maioria dos países.

Um pequeno bloco de nações, liderado pela Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo, opõe-se a esta fórmula.

O texto propõe ainda outras medidas, como triplicar a instalação de energias renováveis, ou eliminar os subsídios a estes combustíveis fósseis, mas como um leque de opções que os países “poderiam” aplicar, ao seu gosto.

“Este não é um cardápio de restaurante. Temos que fazer todas essas coisas”, disse à AFP o ministro canadense do Meio Ambiente, Steven Guilbeault.

As negociações são lideradas por Sultan Al Jaber, CEO da companhia petrolífera dos Emirados.

“Todos gostaríamos de terminar a tempo, mas todos queremos obter o resultado mais ambicioso possível. Este é o nosso único objetivo”, insistiu à imprensa o seu número dois, Majid Al Suwaidi.

“Todas as partes estão trabalhando contra o tempo”, disse Cassie Flynn, diretora global da mudança climática do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

“São os países do Norte que exploram petróleo no meu país. E o que nos dão para que abandonemos (essas fontes de energia)?”, questionou a ministra do Meio Ambiente do Congo, Arlette Soudan-Nonault.

– Tudo por consenso –

As conferências do clima tomam as suas decisões por consenso.

Apesar de todas as promessas, o mundo aumenta invariavelmente as suas emissões de gases de efeito estufa, e os especialistas alertam que, daqui até 2030, os compromissos de reduções propostos em Dubai representariam apenas um terço do sacrifício necessário.

O planeta viveu em 2023 o ano mais quente desde o início dos registros, alertam os climatologistas.

“Esta é a última COP em que seremos capazes de manter viva [a meta de] 1,5ºC”, disse o enviado dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, aos ministros.

– Participar de uma farsa –

A COP28 em Dubai deveria ser o grande passo adiante, após a revisão do Acordo de Paris de 2015 para combater a mudança climática, realizada em setembro.

O principal objetivo do Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura global a um máximo de +1,5°C, idealmente, até 2050.

“Acredito que muitos de vocês se opõem a participar de uma farsa”, advertiu Kerry aos seus homólogos.

A COP28 começou de forma promissora, com a adoção de um fundo de danos e perdas para os países mais afetados pela mudança climática, em 30 de novembro.

“Começamos com uma notícia muito boa e queremos terminar esta COP dando ao mundo o que ele precisa”, declarou nesta terça-feira a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, que preside o bloco europeu.

Ribera e o comissário europeu para a Ação Climática, Wopke Hoekstra, reuniram-se com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que desembarcou em Dubai para dar impulso às negociações.

“Pessoalmente não estou comprometido com uma única palavra, mas sou muito severo e insisto que a fórmula final, seja ela qual for, tem que ser extremamente ambiciosa”, disse à AFP o ministro dinamarquês, Dan Jorgensen, que participou na linha de frente das negociações.

A reunião de negociação na madrugada de segunda para terça foi promissora, segundo diversas fontes presentes.

Mas a Arábia Saudita, cujo negociador permanece em silêncio perante a imprensa, manteve-se firme na sua posição.

Para estes países, o objetivo de +1,5ºC pode ser alcançado sem abandonar completamente as fontes de energia que têm sido o motor do crescimento global desde o início do século XX.

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