A COP28 entrou no último dia oficial do evento nesta terça-feira (12) sem um acordo sobre o que fazer com os combustíveis fósseis para acelerar o combate contra a mudança climática.

O prazo estabelecido pelo presidente da conferência, Sultan Ahmed Al Jaber, para a conclusão da reunião, às 7H00 GMT (4H00 de Brasília) desta terça-feira, expirou sem o anúncio de um acordo, como vários negociadores anteciparam nos últimos dias.

A disputa envolve a necessidade de “reduzir” ou “eliminar” progressivamente o uso de petróleo, gás e carvão, assim como se as medidas propostas devem ser apenas uma opção ou um compromisso real, pelo menos no papel.

O mundo aumentou as emissões de gases do efeito estufa em 2023. Os cientistas alertam que, até 2030, os compromissos de reduções propostos em Dubai representarão apenas um terço do que é necessário para conter as mudanças climáticas.

O planeta vive em 2023 o ano mais quente desde o início dos registros, segundo os climatologistas.

– O fim do petróleo –

Há 12 dias, representantes de quase 200 países participam em Dubai na maior conferência sobre mudanças climáticas já organizada até o momento, com a intenção de debater uma questão histórica: se o mundo estava preparado para declarar simbolicamente a morte do petróleo, do carvão e do gás.

A presidência emiradense da COP28 preparou, após longas sessões de negociações, uma proposta de declaração que indica que os países “poderiam” escolher entre várias medidas para elevar seus compromissos climáticos, incluindo a polêmica “redução do consumo e produção” de combustíveis fósseis.

A proposta foi recebida com irritação ou frustração pela maioria dos países. Os negociadores seguiram em reuniões durante a madrugada.

A COP28 deveria, a princípio, terminar com uma declaração votada por consenso.

O diretor geral da COP28, Majid Al Suwaidi, afirmou que a presidência emiradense da conferência está trabalhando em um novo rascunho do acordo, baseado nas “linhas vermelhas” apresentadas na segunda-feira pelos países, que rejeitaram a primeira proposta.

“O objetivo é alcançar um consenso”, declarou à imprensa. “Todos gostariam de concluir a tempo, mas queremos obter o resultado mais ambicioso possível. Este é o nosso único objetivo”, acrescentou.

“Esta é a última COP em que teremos a oportunidade de manter (o objetivo) 1,5ºC vivo”, declarou o enviado dos Estados Unidos para o clima, John Kerry.

A meta do Acordo de Paris de luta contra a mudança climática de 2015 era manter o aumento da temperatura mundial limitado ao máximo de +1,5 ºC.

“Penso que muitos de vocês se opõem a participar em uma farsa”, acrescentou Kerry.

O texto é “claramente insuficiente”, disse a ministra de Transição Ecológica da Espanha, Teresa Ribera, que ocupa a presidência semestral dos ministros da União Europeia.

Ribera e o comissário europeu de Ação Climática, Wopke Hoekstra, se reuniram com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, nesta terça-feira.

– Confusão e rostos preocupados –

Durante a madrugada, alguns representantes, em particular dos países produtores de petróleo do Golfo, optaram por não fazer declarações.

Ativistas receberam os negociadores com uma corrente humana perto do salão de debates, com os braços cruzados, em silêncio.

A confusão e rostos preocupados dominavam os corredores do grande centro de exposições de Dubai. Uma fonte da presidência emiradense afirmou, no entanto, que tudo faz parte do jogo das negociações.

O texto é “uma abertura”, como se fosse uma partida de xadrez, disse a mesma fonte.

O papel da China e dos Estados Unidos, cruciais nas negociações climáticas (e principais emissores de gases do efeito estufa do planeta) será determinante.

Embora todos os olhares estejam voltados para os combustíveis fósseis, outros temas também têm muito trabalho pela frente, como o estabelecimento de metas comuns de adaptação à mudança climática.

“Há vários cenários pela frente. No melhor cenário possível, as partes encontram pontos de compromisso que refletem o consenso”, afirmou Cassie Flynn, diretora global para mudanças climáticas do Programa de Desenvolvimento da ONU.

“Outra opção, e já vimos isso em outras negociações, é elaborar uma lista de opções que será reportada à próxima COP”, explicou.

“O terceiro cenário, que ninguém deseja, é uma pausa nas negociações e que a COP28 seja retomada mais tarde”, completou.

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