Black Friday e Compras de Natal se confundem durante o fim do ano

Black Friday e Compras de Natal se confundem durante o fim do ano

25 de novembro acabou de passar e a Black Friday se encerrou. Virou Black Weekend, ou Black Monday.

 

Os preços, teoricamente, deveriam voltar ao que eram antes da promoção massiva terminar, mas, com o Natal se aproximando, as ofertas de produtos de grande cobiça continuam com os valores despencando, fazendo com que o ânimo e o espírito do consumidor médio receba aquele último suspiro de força que precisa para chegar com o astral lá em cima até o último dia do ano.

 

A sensação de pertencimento e sucesso momentâneos proporcionados pela aquisição daquele tão sonhado novo celular que custava R$3000 e que agora pode ser encontrado entre celulares até 1000 reais, é inexplicável.

 

Entre o fim de novembro e o fim de dezembro, sites de busca recebem acessos recordes, as vitrines de lojas de rua e de shoppings observaram uma exposição artística digna do Louvre, perfis de Instagram dando dicas de compra sobre eletrônicos, melhores marcas de roupa e indicando os melhores tipos de brechós de luxo para aproveitar promoções de final de ano, invadem as pausas para o café do trabalhador moderno.

 

Mas, acima disso, a questão que mais pertine tal tema é, como e quando uma data comercial tão intrinsecamente ligada à história estadunidense veio aportar em solo “vermelho como brasa”. E eivados deste preceito, se faz ainda mais fundamental elucidar o que é o soft power, ou, poder suave, causado pelas vendas de Natal.

Brados Brandos

O Soft Power ou Poder Suave, como é conhecido aqui no Brasil, é uma forma de dominação sociocultural aplicada de forma subliminar, por meio da cultura popular, ou sob uma óptica mais amena, uma exportação de influências que sugestiona outras culturas a um modelo de vivência específico de uma cultura dominante.

 

O Soft Power é um conceito observado e elaborado pelo neoliberal estadunidense Joe Nye, nome revolucionário do neoliberalismo do Séc. XXI, que demonstra a institucionalização de esforços feitos pela indústria cultural para impor um modo de vida que seja proveitoso ao seu país de origem e também à sua economia, visando uma aceitação tácita dos ideias de existência e principalmente consumo daquela nação, fazendo que os produtos, a mídia, a cultura, as tradições e o modo de vida de um povo, sejam vistos como algo a se cobiçar, um objetivo a ser alcançado, um produto a ser adquirido.

 

Hollywood foi (e talvez ainda seja) um dos maiores propagadores de ações envolvendo o Soft Power. E a história do Brasil tem mais relação com ele do que se pode imaginar.

 

O contraponto do Soft Power, por óbvio, é o Hard Power, que consiste na dominação econômica e bélica de uma nação quanto a outra. 

 

Teóricos dos estudos da área de Relações Internacionais começaram a entender que preferir ser temido a ser amado é uma ideia maquiavélica, no pior sentido do termo, e foi com essa consciência que grandes empresas da área do entretenimento estadunidense, como a Walt Disney iniciaram um esforço para exportar o american way, ou o modo americano de organização social. 

 

A aurora de tal concepção se deu no que se abeirou o momento da segunda grande guerra, e os Estados Unidos da América notaram uma movimentação perigosa do fascismo crescendo no imaginário europeu, precisando agir, invadindo então, antes de praias, ideias.

 

Nesta alçada foi que as ideias americanas começaram a ser aplicadas de forma mais pungente ao longo dos anos pós-guerra, pois, se uma estratégia consegue convencer o mundo de que a economia bélica mais emergente do século entrou em uma guerra onde nem meio milímetro de seu solo foi ameaçado, apenas por um altruísmo e anseio de salvar a humanidade, definitivamente era possível vender qualquer produto azul, branco e vermelho que fosse.

Quase de Graça

 

Diante de tal escopo, não é difícil de imaginar a exportação de uma data comercial tão relevante para o resto do mundo. 

 

O Natal, por si só, já tem um misticismo por trás de sua ideia, que não é de difícil explicação. 

 

Muitas são as teorias sobre como ele passou a ser celebrado e o motivo das imagens a ele combinadas. 

 

Papai Noel, árvore de Natal e piscas-piscas acabam se desencontrando da verdadeira proposta da celebração, e isso explicita a questão comercial envolvida com a data.

 

A ideia de estabelecer datas comemorativas artificiais para movimentar o mercado não é exclusividade das economias dominantes. 

 

Aqui no Brasil, por exemplo, não é só o Natal que faz com que o comércio fique super agitado.

 

A Black Friday, que acabou de terminar, chegou ao Brasil há menos de 15 anos, tendo sua primeira edição em 2010 e sendo voltada para a maior movimentação do, ainda cru, mercado digital, hoje mais conhecido como e-commerce. 

 

Na época, o site de  rastreamento Correios chegou a ficar fora do ar, de tantos acessos que recebeu após as compras realizadas pela internet.

 

O sucesso foi latente e perceptível, então demais setores do comércio começaram a adotar a data, criando sites, programas de afiliados de vendas e aplicativos exclusivos para a data.

 

Além do Natal e de sua época comercial anterior (a supracitada, Black Friday), também há outras celebrações desenvolvidas com foco, principalmente, comercial.

 

O dia 12 de junho, por exemplo, se tornou o Dia dos Namorados por um esforço do publicitário João Dória há algumas décadas, para suprir o arrefecimento da economia que ocorria entre o Dia dos Pais e das Mães, desassociando a data de 14 de fevereiro com a celebração, como é comemorado no resto do mundo.

De Todos Para Todos

 

Embora tenha sim um contexto social e histórico por trás do Natal, a questão interessante a se analisar é o quão democrática é tal iniciativa. 

 

A adesão às ofertas dessa época, já está estabelecida na cultura nacional como um período para presentear e é aí que muita gente se endivida.

 

As compras vão de cadernos de desenho a tablets, brinquedos a aparelhos smart, celulares de todos os tipos e roupas dos mais variados estilos.

 

Uma pesquisa realizada pela Conversion chegou ao impressionante percentual de 96% de respostas positivas entre seus entrevistados, quando perguntados se pretendiam fazer compras na época de ofertas.

 

Os produtos mais visados pela população flutuam nas mais diversas áreas, sendo os 5 principais:

 

  • Smartphones com 15%
  • Eletrônicos e eletrodomésticos com 15%
  • Moda e acessórios com 12%
  • Calçados com 11% 
  • Tudo sobre maquiagem e cosméticos com 9%

 

Fica claro que, além de ser uma época que visa movimentar todos os segmentos de mercado, é um período em que todo tipo de público encontra oportunidades de compras, que podem ser úteis até o final do ano seguinte (ou mais), e, ainda, presentear pessoas queridas, sem precisar pagar, pelos presentes, o que poderia ser muito mais caro durante o ano todo.

 

Aqui se encontra o resultado do Soft Power, na sua essência, de forma benéfica, ou não, atendendo a algum lado da população: Quem compra, ou quem vende. Não necessariamente nesta ordem.