22/02/2024 - 17:31
Conferência dos bispos alemães apela para que membros da Igreja Católica não votem no partido AfD – em alta nas pesquisas – e aponta que o extremismo de direita é incompatível com os valores fundamentais do cristianismo.Bispos da Alemanha fizeram nesta quinta-feira (22/02) um apelo aos fiéis católicos do país para que se oponham ao crescente nacionalismo de extrema direita, argumentando que essa corrente política é incompatível com as crenças fundamentais do cristianismo.
"O nacionalismo étnico é incompatível com a concepção cristã de Deus e do homem", apontou uma declaração conjunta apresentada pelo bispo Georg Bätzing, o chefe da Conferência dos Bispos Alemães (DBK), durante um encontro na cidade de Augsburg.
O apelo foi considerado incomum por parte da imprensa alemã, já que nas últimas décadas bispos alemães vinham adotando a prática de não manifestar posicionamentos sobre partidos do país.
No entanto, o apelo também ocorre em meio à ascensão nas pesquisas do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem aparecido em segundo lugar nas pesquisas nacionais, com mais de 19% das intenções de voto.
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência mais liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam na imprensa por falas incendiárias ou racistas, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas e é vigiada de perto por serviços de inteligência da Alemanha como uma ameaça potencial à ordem constitucional do país.
O partido também tem conexões com a extrema-direita mundial. Em 2021, uma de suas deputadas, Beatrix von Storch, foi recebida pelo então presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Extrema direita não pode ser "um local de atividade política para os cristãos"
Em seu apelo, os bispos alemães abordaram diretamente a conduta da AfD, hoje o segundo maior partido de oposição no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), com 78 dos 735 deputados da Casa. "Depois de vários surtos de radicalização, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está agora dominado por uma atitude nacionalista".
Segundo os bispos, dessa forma, "os partidos extremistas de direita e aqueles que proliferam nas margens dessa ideologia não podem, portanto, ser um local de atividade política para os cristãos e também não podem ser elegíveis".
A declaração também aponta que "a participação em políticas de extrema direita – e particularmente qualquer forma de racismo ou antissemitismo – é incompatível com emprego ou serviço voluntário na Igreja Católica". A Igreja Católica alemã, especialmente por causa do seu braço beneficente, a organização Caritas, é um dos maiores empregadores da Alemanha depois do Estado, por meio da administração de uma ampla rede de hospitais, escolas e casas de repouso.
Ainda no mesmo documento, os bispos também se dirigiram a toda a Alemanha: "Apelamos aos nossos concidadãos, inclusive àqueles que não compartilham da nossa fé, para que rejeitem e repudiem a política da extrema direita. Qualquer pessoa que queira viver em uma sociedade livre e democrática não pode abrigar essas ideias".
O bispo Bätzing também afirmou que era imperativo que a Igreja Católica assumisse uma posição clara, já que pesquisas vêm mostrando a AfD na liderança das pesquisas de intenção de voto para os três pleitos estaduais que devem ocorrer no leste da Alemanha neste ano: na Turíngia, na Saxônia e em Brandemburgo.
Os levantamentos vêm provocando o temor de que a legenda possa finalmente eleger seu primeiro governador, no estado da Turíngia, um reduto da AfD na Alemanha.
A Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) também se posicionou contra a AfD no início de dezembro e declarou que a conduta do partido "não era de forma alguma compatível com os princípios da fé cristã”.
Em janeiro, milhares de alemães foram às ruas para protestar contra a ultradireita após a revelação pela imprensa de uma reunião realizada em Potsdam com a participação de neonazistas e membros da AfD, na qual foi apresentado um plano para a deportação em massa de milhões de imigrantes e "cidadãos não assimilados".
jps/ra (dpa, DW, ots)