Um estudo realizado com quase mil pacientes de vinte países demonstra que o organismo feminino apresenta uma resposta imunológica mais satisfatória contra o coronavírus (Sars-CoV-2) do que o organismo masculino. Na Itália, em um universo de 36.805 mortes, 57,2% eram homens; no Equador, esse número chegou a 60,4% do total de 12.181 óbitos. No Brasil, a incidência de mortes causada pela Covid-19 é maior em homens do que em mulheres, mas a diferença é pequena: 50,8%. O estudo também mostra que os participantes do sexo masculino são acometidos pelas formas mais graves de manifestação do vírus, o que leva a mais intenções em Unidades de Terapia Intensiva, as UTIs.

Ainda não há uma resposta conclusiva, mas acredita-se na junção de vários elementos endógenos e exógenos para explicar por que as mulheres têm essa reação mais favorável. Segundo Otávio Cabral Marques, cientista do Departamento de Imunologia e Farmacologia da Universidade de São Paulo (USP), a chave está na genética, uma vez que as mulheres têm vários genes do sistema imunológico alocados no cromossomo X. “Como elas possuem dois cromossomos X e os homens têm apenas um, elas apresentam maior vantagem”, explica. Mas não é apenas isso: o próprio sistema imunológico feminino também favorece as mulheres. É como se fosse uma corrida de carros: o sistema imunológico dos homens acelera a produção de células e substâncias para combater a infecção. Com as mulheres ocorre o mesmo fenômeno, mas no caso delas, “o carro sabe a hora adequada de parar”, compara o médico.

Resposta hormonal

No estudo transcricional, notou-se que o organismo feminino adulto apresentou resposta imune semelhante à de pessoas jovens contra a Covid-19. Quando o coronavírus acessa as cavidades das vias aéreas superiores, ele se liga às células do epitélio respiratório e começa a se reproduzir. O organismo humano passa então a produzir citocinas, proteínas que atuam como sinalizadores para o sistema imune, que, por sua vez, passa a produzir neutrófilos e outras células de defesa contra a infecção viral. Esse mecanismo é mais eficiente nas mulheres do que nos homens. O organismo feminino conta ainda com a produção hormonal. O especialista explica que a forma como o corpo da mulher regula a produção de hormônios influencia na qualidade da resposta à Covid-19. Por exemplo, sabe-se que o estrogênio tem propriedades anti-inflamatórias e é capaz de impedir que o sistema tenha uma resposta descontrolada à contaminação. Como acontece em qualquer de infecção, os fatores socio-comportamentais também influenciam na resposta do corpo contra as doenças. Mulheres tendem a cometer menos excessos durante a vida; costumam ainda a se cuidar melhor e a se submeter a cuidados médicos com mais frequência. Contra a biologia, os homens não podem mudar. Já quanto aos cuidados médicos, é hora de eles aprenderem com elas.