O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, conduzia um bate-papo no Facebook em 2015 com o renomado cientista Stephen Hawking, quando ele o desafiou: “Para qual grande questão da ciência você gostaria de resposta e por quê?”. O bilionário da tecnologia não titubeou: “O que nos permitirá viver para sempre? Como podemos curar todas as doenças?”. A dúvida é hoje o assunto de maior atenção da nata tecnológica do Vale do Silício, formada majoritariamente por jovens que acumularam dinheiro para centenas de gerações e que acreditam no mantra de que “envelhecer é adoecer; ao evitar doenças, evita-se a morte”. Isso torna a extensão da vida útil humana o desafio dos imortalistas da área tecnológica do planeta.

O exemplo mais recente é de Peter Thiel, cocriador da plataforma PayPal. Ele afirmou ter aderido à preservação de seu corpo pela criogenia para que possa ser ressuscitado futuramente. Enquanto isso, tem investido em empresas que propõem transfusão de sangue de jovens para estimular o rejuvenescimento.

A Ambrosia, startup do segmento, é a mais famosa — cobra até U$ 8 mil por litro de plasma e seu fundador, Jesse Karmazin, afirma que o procedimento “chega bem perto da imortalidade”.

“Tratamentos que utilizam plasma de jovens não passaram pelos testes rigorosos que a FDA exige para confirmar o benefício terapêutico e garantir sua segurança”, replicou, em nota oficial, a agência de saúde dos EUA.

A maioria dos imortalistas, porém, não investe pela vida eterna, mas para garantir o máximo de anos à vida humana regular. O desafio científico é superar a estimativa de que o corpo não é capaz de durar mais do que 150 anos.

A lógica dos bilionários digitais é que conquistaram todos os segmentos a que se propuseram:
• o comércio, com Jeff Bezos e a Amazon,
• o transporte, com a Uber,
• a moradia, com a Airbnb.
• Por que não a saúde?

• O guru e decano da turma é o cientista britânico Aubrey de Grey. Jeitão de guru e dono de uma barba que desce até o umbigo, começou a estudar rejuvenescimento nos anos 1980 e ficou famoso na década de 1990, quando desenvolveu a tese da imortalidade no livro A Teoria do Envelhecimento por Radicais Livres Mitocondriais.

• O CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT, Sam Altman, investiu US$ 180 milhões na startup de longevidade Retro Biosciences, que, segundo o site da empresa, “tem a missão de acrescentar dez anos à vida humana saudável”. Ele é adepto da metformina, um anti-diabético cada vez mais usado por biohackers do Vale do Silício como forma de retardar o envelhecimento.

• O criador da Amazon, Jeff Bezos, investe na Altos Labs, startup de biotecnologia que pretende “restaurar a saúde e a resiliência das células por meio da programação de rejuvenescimento celular para reverter doenças, lesões e deficiências”.

Homem e Máquina

Há apostas mais ousadas, como a fusão entre máquina e ser humano.

• Larry Page e Sergey Brin, dois dos fundadores do Google, criaram a Calico em 2013 com o objetivo de “curar a morte”. Um dos cabeças era Ray Kurzweil, criador do conceito de singularidade tecnológica, que prevê a superação do ser humano pela inteligência artificial, o que levará à geração de imortais superpoderosos.

• O bilionário russo Dmitry Itskov aposta na combinação de corpos de holograma e cérebros sintéticos, conectados com personalidades humanas por meio da organização Iniciativa 2045. “O objetivo é permitir a transferência da personalidade de um indivíduo para um portador não-biológico mais avançado, prolongando a vida até o ponto da imortalidade”, aponta a missão, que pretende obter sucesso até o ano de 2045. Um ano após a conversa com Hawking, Zuckerberg passou a investir na cura de doenças infecciosas e disse que “logo será bastante normal que as pessoas vivam além dos 100 anos”.

• Larry Ellison, fundador da Oracle, doa verba para pesquisas antienvelhecimento desde 1997. Ele resumiu a filosofia do Vale do Silício: “A morte nunca fez sentido para mim. Como uma pessoa pode estar lá e depois simplesmente desaparecer?”. “Há todas essas pessoas que dizem que a morte é natural, é apenas parte da vida, mas eu acho que nada pode estar mais longe da verdade”, concorda Thiel, do Paypal.

Musk e drogas preocupam comunidade

Ficou famosa a cena do bilionário Elon Musk se exibindo com um grande cigarro de maconha na gravação do podcast mais escutado dos EUA, de Joe Rogan, há alguns anos. Mas o que era pose recreativa ganhou ar sério a partir de reportagem do Wall Street Journal, que aponta que investidores e executivos das empresas de Musk estão preocupados com o uso de drogas e sua capacidade de condução eficaz dos negócios como CEO.

Segundo a reportagem, ele é usuário de ecstasy, cocaína, LSD e cogumelos, além de misturar a condição medicinal e recreativa para cetamina. Apenas a cetamina é legal em nível federal, e usada por ele sob prescrição.

Sobre a tendência de seus pares de interesse e investimento em longevidade, Musk afirma ser contrário. “É importante morrermos porque, na maioria das vezes, as pessoas não mudam de ideia com o tempo. Se você viver para sempre, podemos nos tornar uma sociedade muito rígida, onde novas ideias não proliferam.”