A Suprema Corte dos EUA iniciou dia 26 um julgamento que poderá marcar o fim do reinado das big techs como Google, Meta e X/Twitter. Os juízes decidiram arbitrar disputas judiciais em andamento no Texas e na Flórida que são cruciais para o futuro dessas companhias. Contra elas, entidades conservadoras argumentam que as redes sociais devem ser obrigadas a veicular todo o conteúdo postado, sem nenhum tipo de interferência. O start da confusão foi exatamente a decisão de algumas delas em cortar ou limitar a ação incendiária de Donald Trump após o ataque ao Capitólio em 2021.

Defensores dessas empresas querem blindá-las usando o nobre escudo da primeira emenda da Constituição, que garante o direito à livre manifestação. A ironia é que esse argumento, que propiciou a independência histórica da imprensa no país, as equipara aos veículos de comunicação. Com os direitos constitucionalmente garantidos, viriam as obrigações. Isso representa um anátema para essas gigantes, que sempre usaram o argumento de que trabalham apenas com tecnologia, portanto não podem ser responsabilizadas pelo que divulgam.

Gigantes tecnológicas desejam ter independência como a imprensa, mas sem precisar se responsabilizar por suas ações

O cerco está se fechando para as estrelas do Vale do Silício porque vários estados americanos começam a questionar os custos sociais da desinformação — em relação à saúde mental de crianças, por exemplo. Num sentido mais amplo, as techs foram tragadas pelo turbilhão político causado pelos ataques disruptivos que ajudaram a provocar. Os democratas se encantaram nos anos Obama com o poder mobilizador das redes sobre os jovens — mas depois ficaram irritados com o uso que Putin fez delas para interferir na eleição de 2016. Já os republicanos adoraram a força que o ex-Twitter deu a Trump, mas agora se insurgem contra a “censura” ao ex-presidente populista.

A eleição deste ano nos EUA torna tudo mais urgente. A Inteligência Artificial já é utilizada para desestabilizar o processo eleitoral na Georgia. O risco concreto de interferência no pleito está sendo sentido nas primárias, a exemplo do que ocorreu em processos eleitorais de países como Eslováquia, Índia e Indonésia — e o Brasil certamente será um laboratório rico para a manipulação este ano. A decisão da Suprema Corte só deve sair em junho. A indústria da inovação ainda espera garantir sua hegemonia, mas o julgamento em Washington parece ser o início do fim.