O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, voltou a sancionar Cuba nesta sexta-feira (30), apontando à Polícia Nacional Revolucionária (PNR) e seus mais altos funcionários, e prometendo novas medidas a menos que haja “mudanças drásticas” na ilha comunista.

“Haverá mais a menos que haja alguma mudança drástica em Cuba, que não antecipo”, disse, ao se reunir na Casa Branca com líderes cubano-americanos após os protestos históricos recentes em dezenas de cidades cubanas.

A PNR, assim como seu diretor, Oscar Callejas, e seu subdiretor, Eddy Sierra, foram sancionados por sua participação em “reprimir os protestos pacíficos e pró-democráticos” que eclodiram em 11 de julho no país, segundo um comunicado do Tesouro.

Foram acusados de “graves violações dos direitos humanos” e vedados de acessar o sistema financeiro americano em virtude da Lei Global Magnitsky, que permite aos Estados Unidos punir quem tiver cometido abusos de direitos humanos ou atos de corrupção em outros países.

“A medida de hoje serve para fazer prestar contas os responsáveis de reprimir os chamados do povo cubano à liberdade e o respeito aos direitos humanos”, afirmou a diretora do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Tesouro, Andrea Gacki.

Desde o começo dos protestos, em julho, “o regime cubano mobilizou a PNR, uma unidade policial subordinada ao Ministério do Interior cubano, para reprimir e atacar os manifestantes”, disse o Tesouro.

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Ele afirmou que agentes da PNR foram fotografados “confrontando e prendendo manifestantes em Havana, incluindo o Movimento das Mães 11 de Julho, grupo fundado para organizar as famílias dos presos e desaparecidos”.

Em Camagüey, cidade do centro-leste de Cuba, “um sacerdote católico foi agredido e preso pela PNR enquanto defendia jovens manifestantes”, afirmou.

Em 11 e 12 de julho, milhares de pessoas foram às ruas em mais de 40 cidades cubanas, dizendo ter “fome” e pedindo o fim da “ditadura”, em meio à pior crise econômica da ilha em décadas e de um forte aumento dos contágios e mortes por covid-19.

Os protestos, sem precedentes após a revolução que levou ao poder Fidel Castro, em 1959, deixaram um morto e dezenas de feridos.

Centenas foram detidos e muitos são acusados de desacato, desordem pública, vandalismo e propagação da pandemia por supostamente irem às ruas sem máscaras.

Um funcionário do governo disse em 24 de julho que 59 cubanos tinham sido processados por participar das manifestações.

– Cubano-americanos na Casa Branca –

 

Biden, que condenou de imediato a reação de Havana aos protestos e apoiou os manifestantes, insistiu nesta sexta-feira em que a situação em Cuba é “intolerável” devido ao “falido regime comunista”.

“Os Estados Unidos estão tomando medidas concentradas para impulsionar a causa do povo cubano”, disse a membros de destaque da comunidade cubano-americano, entre eles os presidentes dos comitês das Relações Exteriores do Senado, Bob Menéndez, e da Câmara de Representantes, Gregory Meeks, ambos democratas.

“Quero que saibam que (…) escutamos suas vozes e escutamos os gritos de liberdade que vêm da ilha”, assegurou Biden.


Participaram do encontro o diretor do Partido Democrata na Flórida, Manny Diaz, o cubano Yotuel Romero, um dos autores de “¡Patria y vida!”, que virou um hino dos protestos, bem como ativistas da causa cubana em Miami, como o produtor musical Emilio Estefan, e o empresário Felice Gorordo, diretor-executivo da eMerge Americas.

Ao recebê-los, Biden disse que seu governo está avaliando “todas as opções disponíveis” para proporcionar acesso à internet sem “censura” em Cuba, e vendo “como maximizar o fluxo de remessas ao povo cubano sem que os militares cubanos fiquem com uma parte”.

Também disse que estuda aumentar o pessoal da embaixada americana em Havana.

Todas estas iniciativas, já anunciadas na semana passada, são questionadas pela oposição republicana, que não deixa de lembrar que Biden foi o vice-presidente de Barack Obama, o presidente que tentou uma aproximação com Cuba, revertida em seguida por seu sucessor, o republicano Donald Trump.

“A falta de liderança de Biden é uma vergonha e socava a causa da liberdade em Cuba em todo o mundo”, disse o Comitê Nacional Republicano em um comunicado.

O governo Biden sancionou em 22 de julho o ministro das Forças Armadas Revolucionárias, Álvaro López Miera, e os “boinas negras”, uma unidade antimotins do Ministério do Interior (MININT), mobilizada durante as manifestações.

Mas o impacto destas medidas, que se somam ao amplo embargo vigente contra Cuba desde 1962, estima-se muito limitado, especialmente porque o MININT em seu conjunto já estava na lista da OFAC e os funcionários e entidades envolvidos provavelmente não tenham ativos sob jurisdição americana.


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