Para Joe Biden, tudo está cor de rosa na economia americana, e as estatísticas apoiam-no, mas os eleitores seguem sofrendo com os altos preços, uma lacuna de percepção que está dificultando a campanha do presidente à reeleição.

O crescimento é positivo, o desemprego cai, e a economia americana está se recuperando da pandemia da covid-19 melhor do que outros países, graças a um enorme pacote de estímulos.

Mas o problema para a campanha do democrata, que aspira a um segundo período no cargo, é que a maioria dos americanos não sente a melhora onde mais importa: na carteira.

A inflação está em queda, mas os preços ainda altos significam que as pessoas ainda gastam muito para colocar comida na mesa, pagar o aluguel, ou comprar gasolina, sem importar o que os números do governo dizem.

Biden tentará convencê-los de que as coisas irão melhorar quando fizer, na quinta-feira (18), seu primeiro evento de campanha em 2024, em Allentown, Pensilvânia (nordeste), estado que prenuncia uma disputa bastante acirrada nas eleições presidenciais de novembro.

Depois que os números da inflação vieram acima do previsto na última quinta, Biden se gabou de ter criado 14 milhões de postos de trabalho desde que se tornou presidente, embora tenha concordado que ainda falta “muito trabalho para baixar os custos para as famílias e para os trabalhadores americanos”.

Joanne Hsu, da Universidade de Michigan, que publica uma pesquisa mensal sobre a confiança dos consumidores, seguida de perto pelos mercados, disse que os índices estavam melhorando, ainda que lentamente.

“Há muitas evidências em nossa pesquisa de que os consumidores reconhecem os pontos fortes da nossa economia”, disse Hsu à AFP

“No entanto, o que não os fazem se sentir bem… é que a inflação, especificamente os altos preços, seguem tendo um forte peso sobre suas experiências econômicas”.

Os preços, em particular, não baixaram até os níveis de antes da pandemia, transformando uma simples ida ao supermercado em um tormento para as famílias.

“Os consumidores ainda relutam em aceitar que não vamos voltar a 2019”, afirma Hsu.

– “Bidenomics” –

Em dezembro, Biden demonstrou sua frustração antes de partir para as férias de Natal. Quando um jornalista lhe perguntou sobre a economia em 2024, o presidente respondeu: “Está tudo bem. Dê uma olhada. Comece a reportar da maneira certa”.

O mandatário de 81 anos enfrenta índices de aprovação historicamente baixos e, nas pesquisas, está empatado, ou mesmo atrás, de seu provável oponente republicano, Donald Trump, a quem derrotou em 2020.

A sabedoria política diz que as eleições nos Estados Unidos se ganham com “a economia, estúpido”, frase famosa da campanha de Bill Clinton em 1992. Portanto, Biden poderia ser perdoado por pensar que a economia trabalha a seu favor.

A confiança do presidente de que a economia atrairia os eleitores levou a Casa Branca, no ano passado, a rebatizar suas políticas como “Bidenomics”, com o objetivo de vender boas notícias aos eleitores.

A política “Bidenomics” se relaciona, em particular, ao ato legislativo de redução da inflação, que incluiu centenas de bilhões de dólares para desenvolver a infraestrutura, impulsionar a fabricação de alta tecnologia e da energia e a tecnologia verde.

Muitos desses projetos levam, no entanto, anos em seu desenvolvimento e vão render frutos para os eleitores apenas depois das eleições. Outro problema é que muitos são projetos regionais, e funcionários locais, alguns deles republicanos, podem atribuir o mérito a si próprios.

O risco do “Bidenomics” é que qualquer fracasso esteja ligado ao próprio Biden, e assim aconteceu. O slogan foi discretamente abandonado no final do ano passado, embora pareça ter regressado quando a campanha começou.

Como resultado, a campanha passou a atacar Trump como uma ameaça à democracia, e os dois primeiros discursos de Biden do ano se concentraram nisso e quase não mencionaram a economia.

Trump respondeu dizendo que esperava que a economia entrasse em colapso, recebendo uma dura reprimenda de Biden.

“A Casa Branca experimentou mensagens mais afirmativas, falando sobre o que o presidente fez. Até agora não conseguiram mover a agulha”, diz William Galston, pesquisador da Brookings Institution.

Analistas dizem que a melhor opção de Biden é um número simples, mas muito específico: que os salários continuem a subir mais rapidamente do que os preços, como têm ocorrido desde abril do ano passado, permitindo que os consumidores sintam as carteiras mais cheias.

“Se isso não acontecer, será uma subida difícil”, completou Galston.

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