A tentativa desesperada do presidente Joe Biden de aprovar leis que protejam o acesso de minorias ao voto, especialmente afro-americanos, parecia condenada nesta quinta-feira (13) pela oposição de seu próprio partido à sua estratégia.
Biden se dirigiu ao Congresso em uma visita incomum para tentar convencer os democratas a mudar uma regra do Senado para que ele possa aprovar dois projetos de proteção eleitoral, apesar da oposição republicana.
Ele admitiu que “não está certo” de conseguir que o Congresso aprove uma grande reforma eleitoral, destinada a proteger o acesso dos afro-americanos ao voto.
“Espero que consigamos, mas não estou certo”, afirmou, após se reunir com senadores democratas no Capitólio.
Mas antes mesmo de chegar para o almoço com os congressistas, a senadora democrata Kyrsten Sinema fez um discurso explicando que, embora apoiasse os projetos de acesso ao voto, não concordava em mudar a regra, conhecida como filibusterismo.
Sinema disse que ignorar o filibusterismo, que exige uma maioria de 60 em 100 votos e, portanto, algum apoio republicano a um projeto de lei democrata, aprofundaria a “espiral infernal da divisão”.
“Para proteger nossa democracia… isso não pode ser alcançado por meio de um único partido”, disse ela.
Biden foi ao Capitólio na esperança de convencer Sinema e outro reticente, o senador Joe Manchin.
Biden argumenta que as leis nacionais de direito ao voto são vitais para preservar a democracia americana contra as tentativas republicanas de excluir negros e outros eleitores predominantemente democratas por meio de uma série de leis recentemente promulgadas em nível local.
Faltando uma semana para completar um ano de mandato, o índice de popularidade de Biden está abaixo de 40% e os republicanos estão prontos para tomar dos democratas o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato em novembro.
“O que está em jogo é nada menos que nossa democracia”, disse Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes e uma aliada importante de Biden.
– Filibusterismo –
Ironicamente, em um momento de divisões implacáveis entre republicanos e democratas, os republicanos não são o maior problema de Biden.
Os democratas controlam o Senado por apenas um voto, e isso não é suficiente, sob as regras atuais, para aprovar a maioria das leis.
O filibusterimo permitiu aos republicanos dificultar o trabalho dos democratas no Senado nos últimos 12 meses.
Desta vez, Biden pede que seu partido crie uma exceção ao filibusterimo, permitindo que a regra seja alterada temporariamente, e desta forma projetos de lei eleitorais possam ser aprovadas por maioria simples, ignorando os republicanos.
O problema é que mudar a regra exigiria a aprovação unânime dos democratas e até agora Sinema e Manchin se opõem.
Se ele não conseguir convencê-los, o filibusterismo continuará em vigor e, embora Sinema e Manchin apoiem as reformas eleitorais, os dois projetos morrerão.
Um cenário semelhante ocorreu há um mês, quando o pacote social e climático de US$ 1,7 trilhão não passou porque Manchin se recusou a apoiá-lo.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que os americanos vão aplaudir Biden por pelo menos tentar.
“A maioria do público americano escolheu o presidente para fazer coisas difíceis e lutar por coisas difíceis, incluindo lutar por problemas que podem parecer uma batalha difícil”, declarou na quarta-feira.
No entanto, com seu prestígio em jogo, Biden se encontra em uma posição desconfortável.
Muitos afro-americanos votam nos democratas e alguns líderes influentes já criticaram Biden por fazer pouco e tarde demais pelas leis eleitorais, um assunto delicado da história do racismo e das tentativas de restringir os votos dos negros.
Ao mesmo tempo, os republicanos acusam Biden de ter abandonado suas raízes centristas e de ter ido para a extrema esquerda.
O discurso de Biden na terça-feira em Atlanta, no qual afirmou que as leis de acesso ao voto são uma ferramenta vital para preservar os direitos democráticos foi “divisivo” e “pura demagogia”, disse o senador republicano Mitch McConnell na quarta-feira.