O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enfrenta, a partir desta segunda-feira (29), uma pressão política crescente para retaliar o Irã por um ataque mortal com drones que teve como alvo tropas americanas, o que representa um novo grande desafio para o democrata em pleno ano eleitoral.

Atacar o Irã aumentaria drasticamente o risco de estender as ações bélicas na região, o que Biden diz que pretende evitar, sem mencionar a possibilidade de mais caixões com americanos retornarem para casa nos meses que antecedem a abertura das urnas, em novembro.

No entanto, com os opositores republicanos instando o presidente a “atingir o Irã”, Biden não pode se dar ao luxo de mostrar fraqueza contra Teerã enquanto luta com baixos índices de aprovação antes de uma provável revanche pela Casa Branca com o ex-presidente Donald Trump (2017-2021).

“Ele está sob uma pressão tremenda: o governo se encontra em uma espécie de situação em que todos perdem”, disse à AFP Colin Clarke, diretor de pesquisa do Centro Soufan de Nova York.

“Acredito que ele será criticado por pessoas que dizem que é fraco e será criticado por pessoas que dizem que está indo longe demais. Então, está errado se você faz e é amaldiçoado se não faz”, explicou.

A Casa Branca prometeu nesta segunda-feira uma resposta “consequente” ao ataque de domingo contra uma base na Jordânia que matou três soldados americanos, os primeiros a morrer em uma ação hostil desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em 7 de outubro. Além disso, pelo menos 34 membros das forças armadas ficaram feridos, segundo fontes militares.

O próprio Biden, de 81 anos, afirmou que seu país “responderá”, durante um evento de campanha em uma igreja na Carolina do Sul, um dos vários que realizou nos últimos dias enquanto busca impulsionar sua candidatura para um segundo mandato.

O Irã negou qualquer vínculo com o ataque, o qual Biden atribuiu às milícias que operam na área com o respaldo do Irã.

Mas este tema foi transformado em uma arma política pelos republicanos, e por Trump em particular, em sua tentativa de retornar à Casa Branca em novembro e vingar sua derrota de 2020 para Biden.

O Irã negou qualquer vínculo com o ataque, que Biden atribuiu às milícias que atuam na região, apoiadas pelo Irã.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, negou categoricamente que a decisão de Biden possa ser influenciada pelas eleições.

“Ele não está se baseando em cálculos políticos, nem nas pesquisas, nem no calendário eleitoral quando trabalha para proteger nossas tropas em terra e nossas naves no mar”, disse à imprensa.

“E qualquer sugestão no sentido contrário é ofensiva”, afirmou.

Mas este tema foi transformado em arma política pelos republicanos, e por Trump em particular, em sua tentativa de voltar à Casa Branca em novembro e conseguir uma revanche de sua derrota para Biden em 2020.

– “Atingir o Irã agora” –

Trump descreveu as mortes como uma “consequência da fraqueza e rendição de Joe Biden” a Teerã, focando em um acordo que a administração Biden fez com o Irã no ano passado para libertar detidos americanos em troca da liberação de US$ 6 bilhões (R$ 29,5 bilhões, na cotação atual) em fundos iranianos.

O magnata republicano também se vangloriou de ter pessoalmente ordenado o ataque americano que matou o general Qasem Soleimani, responsável pelas operações externas da Guarda Revolucionária – o exército ideológico do Irã – há quatro anos.

Outros republicanos também advertiram que usariam a postura em relação ao Irã como prova da força de Biden antes das eleições.

O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse que o Irã agora carrega “sangue americano como distintivo de honra”.

“O mundo inteiro está agora atento a sinais de que o presidente finalmente está preparado para usar a força americana para forçar o Irã a mudar seu comportamento. Nossos inimigos estão ousados”, alegou McConnell.

Mas outros foram ainda mais intransigentes.

“Atinja o Irã agora. Atinja-os com força”, exigiu em um comunicado Lindsey Graham, o principal legislador republicano no Comitê Judicial do Senado e um dos principais nomes da política “linha dura” do partido.

No entanto, os dilemas que Biden enfrenta são enormes.

Ataques diretos ao território iraniano seriam propícios para uma escalada gigantesca. No entanto, uma ação ainda menor do que essa contra representantes de Teerã poderia acirrar o conflito, ao mesmo tempo em que desestabilizaria os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza.

Mas uma maior participação armada minaria a política valiosa de Biden de retirar os Estados Unidos de suas “guerras intermináveis” no Oriente Médio, mesmo que a caótica retirada americana do Afeganistão sob seu mandato tenha levado a uma tomada de poder pelos talibãs.

E apesar de todas as críticas a Biden, Trump teve o cuidado de não pedir ataques contra o Irã, já que sua política externa de “EUA em primeiro lugar” há muito tempo pede que o país abandone suas ações militares em conflitos externos.

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