SÃO PAULO, 21 SET (ANSA) – Em um longo discurso nesta terça-feira (21), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez sua primeira fala como líder norte-americano na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), e defendeu que o mundo trabalhe “unido” para enfrentar a pandemia de Covid-19 e as mudanças climáticas.
Citando que essa será uma “década decisiva” para o futuro da humanidade, o mandatário fez uma série de perguntas sobre como o mundo deve agir a partir de agora.
“Será que vamos lutar juntos para salvar as vidas e derrotar a Covid-19? Vamos nos unir para acabar com a pandemia e com as demais que virão? Será que vamos usar as ferramentas que estão nas nossas mãos?”, questionou.
Lamentando as mais de 4,5 milhões de mortes provocadas pelo coronavírus Sars-CoV-2, Biden ressaltou que há uma “grande oportunidade” para que todos os países trabalhem unidos. Segundo o mandatário, o mundo está “em um ponto de inflexão” e é preciso ressaltar os direitos humanos universais que são a base da criação da ONU.
Após essa introdução, Biden começou a citar vários países e conflitos, dizendo que é o momento de “ao invés de lutar as guerras do passado, seguir adiante para o futuro”.
“Encerramos 20 anos de conflito no Afeganistão e esperamos que uma nova era da diplomacia se apresente. Usando nosso poder para investir na defesa da democracia, não importa o tamanho dos problemas que enfrentamos: os governos pelo e para o povo são a melhor forma de liderar”, acrescentou.
Biden afirmou ainda que a solução militar “deve ser a última opção”. “O poder militar precisa ser nossa última ferramenta a ser utilizada e não pode ser utilizada como resposta a todos os problemas que vemos no mundo. A maior parte dos nossos problemas não podem ser resolvidos a bala. A Covid-19, por exemplo, não é resolvida com balas”, pontuou.
Parcerias internacionais – Grande parte do discurso foi focado em ressaltar que seu governo está “reconstruindo alianças” com diversos países, em relações que haviam sido muito afetadas durante o governo de seu antecessor, Donald Trump.
“A verdade fundamental é que, em cada um de nossos países, o nosso sucesso tem a ver com o sucesso dos outros países.
Precisamos trabalhar juntos porque nossas liberdades são interconectadas. Precisamos trabalhar juntos como nunca aconteceu antes. Dei prioridade à reconstrução de nossas alianças, que são essenciais para a prosperidade dos EUA também”, disse ainda.
Citando que a questão “indo-pacífica” é cada vez mais importante, Biden citou como primeiro aliado e parceiro “fundamental” a União Europeia, em um relação que está estremecida, especialmente com a França, desde a última semana quando Washington anunciou um acordo com Reino Unido e Austrália.
Também citou aliados em todas as partes do mundo, nominalmente, australianos e japoneses.
Crise climática – Dizendo que os EUA querem ser os líderes mundiais na luta contra a devastação causada pelas mudanças climáticas, Biden pediu que os políticos “construam algo melhor para nosso futuro”.
“A morte e devastação causada por eventos climáticos em todos os locais do mundo […] tem muito a ver com que António Guterres [secretário-geral da ONU] disse ser um sinal vermelho de alerta.
Os cientistas ainda nos alertam que estamos chegando a um ponto sem volta no clima. Todos os países precisam assumir as responsabilidades na mesa de negociações de Glasgow em novembro”, acrescentou referindo-se à reunião da COP26.
Biden ainda citou os investimentos internos e externos que seu governo está fazendo – e pretende fazer – para investir “em infraestrutura verde e carros elétricos”. O presidente afirmou que, além de ajudar a atingir as metas climáticas e os compromissos formais firmados pelos EUA, isso é uma “chance de investir em si mesmo, criar novos empregos e garantir um crescimento sustentável no futuro”.
Rapidamente citado, o democrata defendeu a soberania de Israel, mas disse que defende a solução de dois Estados com os palestinos, em um situação “que está distante da realidade”.
Rivais internacionais – Sem citar diretamente os nomes dos países rivais, Rússia e China, Biden dedicou grande parte do discurso a falar sobre as ameaças cibernéticas e sobre garantias para os cidadãos terem seus direitos respeitados na esfera digital.
Dizendo que seu governo está aberto “para conversar com todos”, o democrata rebateu uma frase comumente usada pelo governo chinês contra Washington.
“Não estamos buscando uma nova guerra fria, com o mundo dividido em blocos regionais. Os EUA estão prontos para trabalhar com qualquer país mesmo com discordâncias graves em várias áreas.
Nós precisamos trabalhar juntos”, disse rebatendo os chineses e russos.
Já o Irã foi citado nominalmente. Biden afirmou que seu país “está pronto” para “voltar a respeitar o acordo nuclear”, firmado em 2015 e que Trump saiu em 2018, “se o Irã fizer o mesmo”.
Desde que assumiu a Presidência, a diplomacia norte-americana está em conversas com outros aliados do Conselho de Segurança da ONU e da União Europeia para retornar ao pacto nuclear.
Biden também citou a desnuclearização da província coreana, dizendo que seu governo busca um acordo entre as Coreias do Norte e do Sul para “aumentar a estabilidade na região”.
O mandatário voltou a citar o Afeganistão ao ressaltar que é o primeiro presidente dos EUA que discursa na ONU sem o país estar em guerra em 20 anos e que esse é o sinal para o futuro. Com isso, ele citou as ameaças terroristas e lembrou do atentado cometido no aeroporto de Cabul durante a evacuação das tropas ocidentais.
“O mundo de hoje não é o mundo de 2001. Os EUA não são os mesmos daquele ano. Nós temos como responder essa ameaça, sabemos como repelir os grupos terroristas, sabemos como evitar que eles tenham financiamento, e trabalhando em cooperação nós não precisamos confiar apenas em deslocamentos militares”, acrescentou.
O democrata também afirmou que seu governo está preparado para enfrentar o terrorismo “que venha de locais distantes do mundo ou que esteja em nossos jardins”, citando os recentes atos de extremistas de direita e de supremacia branca. (ANSA).