O presidente americano, Joe Biden, tenta seduzir o eleitorado branco, da terceira idade e operário, que lhe deu as costas nas urnas em 2020, em uma pré-campanha velada para sua candidatura à reeleição em 2024.

Por meio de um comunicado à imprensa da Casa Branca e no The New York Times, Biden abordou o orçamento federal que planeja anunciar na próxima quinta-feira (9).

Este orçamento pode se tornar um impulso para sua campanha eleitoral, já que o presidente atualmente não tem maioria no Congresso e a oposição republicana, que controla a Câmara dos Representantes (baixa), vai combater impiedosamente seus projetos.

O líder democrata de 80 anos se comprometeu a ampliar o plano público de saúde – Medicare – para pessoas idosas “por pelo menos 25 anos”, financiando a medida com o aumento de impostos aos mais ricos.

Este aumento passaria de 3,8% para 5% para rendas acima de US$ 400.000 (cerca de R$ 2 bilhões) por ano, de acordo com o plano do mandatário.

Segundo a Casa Branca, atualmente, o Medicare, que beneficia os maiores de 65 anos e algumas pessoas com deficiências ou determinadas doenças, corre o risco de quebrar em 2028.

Mais de 60 milhões de pessoas têm acesso ao programa americano. É um dos poucos sistemas públicos de seguro do país, onde os gastos com saúde tendem a depender do setor privado.

Além deste plano público de saúde, o Estado também regula o chamado Social Security (Seguro Social), que, entre outras coisas, concede uma pensão mínima a partir de determinada idade, e o “Medicaid”, um sistema de cobertura universal de saúde para os mais pobres.

“Pedimos (aos mais ricos) que paguem sua parte justa para os milhões de trabalhadores que os ajudaram a enriquecer possam se aposentar com dignidade”, escreveu o presidente no The New York Times.

– Milionários e bombeiros –

Biden acusa os republicanos de quererem reduzir o alcance do Medicare.

“Os republicanos não querem que os bilionários paguem um centavo a mais em impostos, mas eles não vão proteger a merecida cobertura de saúde de um bombeiro aposentado”, diz ele.

Portanto, o chefe do Executivo americano fez um discurso ao Congresso sobre o Estado da União em 7 de fevereiro, que foi interpretado como um lançamento informal de sua campanha eleitoral com vistas às eleições de 2024.

Eleito em 2020 majoritariamente pelo eleitorado afro-americano e pela população com maior nível de escolaridade, o presidente investe em uma estratégia para recuperar os votos dos brancos, operários, e, especialmente, das pessoas idosas.

Uma pesquisa recente do jornal The Washington Post e da rede ABC mostra que apenas 31% dos eleitores sem instrução estão satisfeitos com suas políticas econômicas, em comparação aos 50% que possuem maior nível de escolaridade.

Em 2016 e 2020, cerca de dois terços dos eleitores brancos e sem instrução votaram no magnata republicano Donald Trump (2017-2021), que já anunciou sua candidatura às presidenciais de 2024.

Biden está ciente de que por quase 20 anos os eleitores brancos com mais idade votaram nos republicanos e, portanto, quer reverter esta tendência, em parte com suas medidas para apoiar o Medicare.

Além disso, ele sabe que a oposição republicana não está confortável com o assunto.

Historicamente hostil ao intervencionismo federal e contrária a qualquer aumento de impostos, a direita sabe, todavia, que sua base eleitoral é a favor do Medicare.

Trump percebeu este movimento e agora se apresenta como defensor do Social Security (Seguro Social) e do Medicare. Isso lhe permite criticar possíveis adversários à indicação republicana nas eleições de 2024, partidários de uma linha mais liberal.

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