Biden aponta desafios ‘alarmantes’ para a democracia no mundo

Biden aponta desafios

A democracia enfrenta “desafios contínuos e alarmantes” em todo o mundo, afirmou nesta quinta-feira (9) o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao inaugurar uma cúpula sobre a democracia, que gerou polêmica por não convidar China, Rússia e oito países latino-americanos.

Biden, que assumiu o cargo em janeiro em meio à maior crise política de seu país em décadas, avaliou que as tendências “apontam em grande parte na direção equivocada” e que “mais do que nunca, a democracia precisa de heróis”.

“Estamos em um ponto de inflexão”, acrescentou o governante democrata. “Permitiremos que o retrocesso dos direitos e da democracia continue de forma desenfreada?”, perguntou.

Para a Casa Branca, o encontro, que acontece virtualmente devido à pandemia, encarna a liderança dos Estados Unidos em uma luta existencial entre democracias e ditaduras ou autocracias.

“Países em praticamente todas as regiões do mundo experimentaram graus de retrocesso democrático”, disse Uzra Zeya, subsecretária de Estado para Segurança Civil, Democracia e Direitos Humanos.

Biden é o anfitrião da cúpula em meio a profundas divergências na frente política interna dos Estados Unidos, com seu predecessor republicano Donald Trump ainda determinado a negar a derrota nas eleições de 2020.

O evento de dois dias, no qual participam representantes de cerca de 100 governos, além de ONGs, empresas e organizações filantrópicas, ocorre após tensões decorrentes da lista de convidados.

China e Rússia, que Biden considera autocracias, ficaram deliberadamente de fora, o que segundo estes países estimula uma “brecha ideológica”.

“Nenhum país tem o direito de julgar o vasto e variado panorama político do mundo com um único critério”, escreveram Anatoly Antonov e Qin Gang, os embaixadores da Rússia e da China em Washington.

O que irritou Pequim foi o convite a Taiwan, ilha governada democraticamente e que a China continental considera parte de seu território.

– “Uma frente unificada” –

Decidir quando outros países deveriam ser excluídos da reunião por violações dos direitos humanos ou fraude eleitoral foi complicado.

Por exemplo, Paquistão e Filipinas estão dentro, enquanto o governo nacionalista da Hungria, membro da União Europeia, ficou de fora. O presidente Jair Bolsonaro foi convidado, enquanto o presidente da Turquia – país membro da Otan -, Recep Tayyip Erdogan, ficou de fora.

Na América Latina e Caribe não foram chamados os governos de oito países: Nicarágua, Cuba, Bolívia, El Salvador, Honduras, Guatemala, Haiti e Venezuela, mas foi convidado Juan Guaidó, líder opositor Venezuelano que os Estados Unidos e cinquenta países consideram presidente interino do país caribenho, em detrimento do presidente Nicolás Maduro.

“Em meu país foi violada a democracia”, disse Guaidó em seu discurso de quinta-feira, no qual propôs “construir uma frente unificada, com enfoque multilateral, que responsabilize autoritários pelos crimes cometidos”.

– Compromissos concretos –

Biden pediu aos líderes mundiais que assumam compromissos concretos durante a cúpula.

Os Estados Unidos começaram com uma promessa de 424 milhões de dólares em programas para ajudar a proteger a liberdade dos meios de comunicação, combater a corrupção e apoiar eleições livres em todo o mundo.

Esse montante inclui milhões de dólares em fundos para fortalecer a integridade das eleições e 30 milhões para um fundo internacional de apoio à mídia independente em “ambientes frágeis e com poucos recursos”.

O elemento mais marcante da cúpula, no entanto, é o fato de que Biden continua a lutar para restaurar a fé na democracia em seu próprio país, onde Donald Trump se recusa a reconhecer os resultados das eleições de 2020.

Com a ajuda de meios de comunicação conservadores, incluindo a poderosa rede Fox News, o ex-presidente republicano continua a espalhar mentiras sobre fraudes entre suas dezenas de milhões de seguidores.