O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou seu homólogo russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (7), que Washington imporá sanções “rígidas” no caso de uma escalada militar na Ucrânia.

“O presidente Biden expressou a profunda preocupação dos Estados Unidos e de nossos aliados europeus com a escalada de forças da Rússia em torno da Ucrânia e deixou claro que os Estados Unidos e nossos aliados responderiam com fortes medidas econômicas e de outros tipos no caso de uma escalada militar”, informou a Casa Branca em um comunicado após a cúpula entre os dois líderes.

O Kremlin, por sua vez, classificou a conversa como “franca e profissional”, e ressaltou que Putin pediu “garantias” a Biden de que a Otan não vai se expandir para o leste.

Os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin se reuniram por videoconferência durante cerca de duas horas para discutir a tensão com a Ucrânia, principalmente.

“É bom vê-lo novamente”, disse Biden, de acordo com as imagens da televisão russa.

“Eu o saúdo, senhor presidente”, disse Vladimir Putin, sorrindo, sentado a uma longa mesa, em frente a uma tela que mostrava seu homólogo americano. Putin estava em sua residência em Sochi, um resort à beira-mar no litoral do Mar Negro.

Biden, por sua vez, participou da “Sala de Crise” da Casa Branca, uma área ultrassecreta de onde são realizadas as operações militares mais delicadas, o que mostra o nível de tensão. Os Estados Unidos não mostraram imagens.

Os Estados Unidos, acusados de agir por conta própria durante a evacuação do Afeganistão e de empreender questões internacionais sem muito respeito por seus aliados, insistem veementemente em sua estreita coordenação com os europeus e ucranianos.

Após sua conversa com Putin, Biden ligaria para o presidente francês Emmanuel Macron, para a chanceler alemã, Angela Merkel e para os primeiros-ministros italiano, Mario Draghi, e britânico, Boris Johnson. Na segunda-feira, ele pediu que eles mantivessem “contato próximo”.

Nos próximos dias, Biden também deve relatar a conversa ao presidente ucraniano Volodymyr Zelenski, anunciou o Executivo dos Estados Unidos na segunda-feira.

– ‘Estável’ e ‘previsível’ –

O otimismo de Washington para criar uma relação “estável” e “previsível” com a Rússia, conforme declarado em junho durante uma reunião presencial entre os dois líderes em Genebra, parece estar distante por enquanto.

Washington, Otan e Kiev acusam Moscou de mobilizar tropas na fronteira com a Ucrânia para atacar o país, repetindo o cenário de 2014, quando os russos anexaram a península da Crimeia. Naquela época, também teve início o conflito no leste da Ucrânia, entre Kiev e separatistas pró-Rússia e, desde então, mais de 13.000 pessoas morreram já morreram em ambos os lados.

Já para Moscou, a presença de países da Otan no Mar do Norte, a vontade da Ucrânia de aderir à aliança militar transatlântica e a ambição de Kiev de se armar com o apoio ocidental são ameaças à Rússia, embora o Kremlin negue qualquer plano de invadir a Ucrânia.

“A Rússia nunca teve a intenção de atacar ninguém, mas temos linhas vermelhas”, acrescentou.

– Mais sanções? –

Os analistas se mostram divididos: muitos pensam que Vladimir Putin está exagerando, mas poucos descartam por completo a hipótese de um ataque.

Se Moscou passar à ação, um alto funcionário da Casa Branca declarou na segunda-feira que Washington está disposto a responder.

“Os Estados Unidos responderiam afirmativamente” a um aumento da presença militar de seus aliados da Otan no leste da Europa. E depois reforçaria o apoio ao Exército ucraniano.

Washington estabeleceria sanções econômicas duras ao regime de Putin, mas diferentes das impostas desde 2014 contra a Rússia, que não têm nenhum efeito.

Especula-se que Washington pode excluir a Rússia do sistema de identificação bancária SWIFT, uma engrenagem crucial para as finanças globais que permite aos bancos transferir dinheiro.

“Sabemos bem que o lado americano é viciado em sanções”, brincou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta terça-feira.

Joe Biden, que já chamou Putin de “assassino”, está em uma situação complexa.

Ele precisa administrar a crise ucraniana com firmeza, se não deseja ser alvo de novas críticas de seus aliados tradicionais, já indignados após a retirada do Afeganistão, completamente caótica e sem coordenação entre os países.

– Outros assuntos –

O presidente dos EUA teve o cuidado de falar com líderes europeus na segunda-feira, incluindo os de França e Alemanha, para insistir em sua “determinação” comum de defender a soberania ucraniana.

Biden comunicará pessoalmente o resultado da reunião com Putin ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, chateado nos últimos meses com os sinais de que o processo oficialmente aberto de adesão da Ucrânia à Otan parece congelado.

Mas nem Kiev nem Washington deram garantias, como exige Moscou, de que a Ucrânia não se juntará – como tantos outros países do ex-bloco soviético – à aliança militar ocidental.

A própria realização desta cúpula já é uma vitória de Putin, que quer afirmar a posição da Rússia como potência no jogo geopolítico global, hoje dominado pela rivalidade entre China e Estados Unidos.

Mas a questão ucraniana não é a única em debate. Estabilidade estratégica e controle de armas nucleares, hacking e cibersegurança, ou mesmo a questão nuclear iraniana, são vários dos tópicos a serem discutidos.

“É claro que, quando dois presidentes vão ao diálogo, eles querem debater os problemas e não caminhar para um impasse”, disse Peskov nesta terça-feira. “Mas não espere avanços imediatos”, alertou.