Tenista número 1 do Brasil, Beatriz Haddad Maia foi suspensa por 10 meses nesta segunda-feira, em decisão divulgada pela Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês). A atleta sofreu a punição, considerada leve, por conseguir comprovar que ingeriu substâncias proibidas de forma não intencional. Ela poderá voltar a competir no dia 22 de maio.

Bia Haddad estava suspensa de forma provisória desde o final de julho, quando a ITF divulgou o caso. A punição temporária se devia ao teste positivo, nas amostras A e B, para metabólitos de SARM S-22 e SARM LGD-4033, substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). As amostras foram colhidas no dia 4 de junho, quando ela disputava o Torneio de Bol, na Croácia.

A atleta foi punida, mesmo provando o consumo acidental das substâncias, porque a ITF e a Wada consideram que cada esportista é responsável pelo que ingere ou consome diariamente. Portanto, a sanção tem caráter de advertência, por punir uma desatenção ou um descuido do atleta.

A tenista não competia desde julho, quando foi eliminada na segunda rodada de Wimbledon. Desde então, vinha aguardando a decisão final da ITF. A entidade acabou aceitando a argumentação da defesa, que apontava para contaminação dos suplementos multivitamínicos que a tenista ingeria para complementar a sua dieta. De acordo com o advogado da atleta, Bichara Neto, a contaminação ocorreu na elaboração do produto, em uma farmácia de manipulação.

“Após análise das vitaminas ingeridas pela atleta em laboratório credenciado pela Agência Mundial Antidopagem, a Federação Internacional de Tênis aceitou que as substâncias proibidas encontradas nas amostras de Bia surgiram de forma não intencional, em decorrência de contaminação cruzada em farmácia de manipulação. Bia é uma atleta extremamente diligente, que utilizava vitaminas prescritas por um médico e que foram compradas de farmácia que assegura vender produtos sem substâncias proibidas e em observância às regras antidopagem”, afirmou o advogado.

Em contato com o Estado, no ano passado, Bichara Neto já revelara a preocupação com uma suposta contaminação. Cogitara até uma possível falha no processo de coleta das amostras da brasileira no torneio croata. E isso porque, logo em seguida, Bia fizera teste em Wimbledon e o resultado dera negativo.

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“O tênis faz parte da minha vida, é a minha maior paixão. Nunca colocaria em risco algo tão importante para mim, que é responsável pela pessoa que sou hoje e que envolve não só a mim, mas também a minha família. Sempre joguei limpo e foi com o tênis que aprendi os valores que fazem parte do meu dia a dia: respeito, honestidade e trabalho duro”, disse Bia Haddad, após a decisão final da ITF.

As substâncias flagradas nas amostras da brasileira são consideradas “agentes anabólicos” pela entidade. SARM, sigla para “selective androgen receptor modulator” ou “moduladores seletivos do receptor de androgênio”. Trata-se de uma versão aperfeiçoada dos esteroides anabolizantes tradicionais, mas com a promessa de causar menos efeitos colaterais no organismo.

O SARM foi desenvolvido inicialmente pela indústria farmacêutica como alternativa aos esteroides anabolizantes para pacientes com perda muscular. No entanto, mesmo sem o reconhecimento da FDA (Food and Drug Administration, na sigla em inglês), a agência norte-americana responsável pela aprovação de alimentos e medicamentos, as substâncias passaram a ser utilizadas por atletas amadores e profissionais para crescimento muscular.

Com a suspensão de 10 meses, retroativa ao início da punição provisória, Bia Haddad só poderá voltar a jogar no dia 22 de maio, véspera de Roland Garros. Como não tem ranking elevado no momento, a brasileira tem chances remotas de entrar no Grand Slam francês, que terá importância ainda maior neste ano. O ranking atualizado logo após o torneio parisiense definirá os classificados para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Assim, as chances dela competir no Japão também são pequenas. Ela só conseguiria a vaga olímpica por meio de convite.

Além disso, Bia Haddad perdeu os pontos conquistados em Bol, Ilkley e em Wimbledon, tanto em simples quanto nas chaves de duplas, e a premiação em dinheiro. A brasileira, que já foi a 58.ª do mundo, ocupa no momento a 147.ª colocação, fora da zona de classificação para a chave principal de Roland Garros – geralmente só entram os 104 primeiros colocados.

OUTROS CASOS – A suspensão sofrida por Bia Haddad é a mais severa entre os demais tenistas flagrados em exames antidoping nos últimos anos. E os casos têm histórias semelhantes. Thomaz Bellucci, ex-número 1 do Brasil, o duplista Marcelo Demoliner, Igor Marcondes e a jovem Camilla Bossi foram todos flagrados nos exames e também culparam contaminação em suplementos vitamínicos pelo resultado positivo. E apontaram farmácias de manipulação como responsáveis pelos casos de doping.

As punições, contudo, vêm aumentando, a cada novo teste positivo. Demoliner, o primeiro desta lista, levou três meses de afastamento. Bellucci, na sequência, foi suspenso por cinco meses. Ambos culparam a mesma farmácia pelos resultados positivos. Marcondes, por sua vez, já levou punição maior, de nove meses. E agora Bia Haddad levou gancho de 10. Caso mais recente após o da número 1 do Brasil, Camilla foi suspensa por seis meses.


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