O novo presidente da Guatemala, o social-democrata Bernardo Arévalo, reiterou no domingo (20) sua promessa de luta ferrenha contra a corrupção “para recuperar a confiança no Estado e na democracia”, após sua ampla vitória nas urnas.

“O povo da Guatemala falou de maneira contundente, já basta de tanta corrupção”, disse Arévalo em seu primeiro discurso após a vitória no segundo turno, com um forte discurso contra a corrupção, um problema endêmico no país.

“Agora, unidos com o povo da Guatemala, lutaremos contra a corrupção”, acrescentou em um hotel da capital. Ele disse que recebeu ligações de felicitações e para abordar uma agenda comum de presidentes de dois países vizinhos, o mexicano Andrés Manuel López Obrador e o salvadorenho Nayib Bukele.

Arévalo venceu o segundo turno da eleição presidencial da Guatemala com 58% dos votos, enquanto a rival, a ex-primeira-dama Sandra Torres, que não reconheceu a derrota, recebeu 37%, após a apuração de 100% das urnas, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).

O futuro presidente informou que recebeu uma ligação do atual presidente, o direitista Alejandro Giammattei, que o parabenizou pelo resultado. E disse que ambos estabelecerão um cronograma do plano de transição.

“A vitória de Arévalo significa uma derrota para a velha política, para o governo e para os nostálgicos da Guerra Fria. Um período diferente começa para o nosso país e será necessária uma mobilização para uma transição pacífica”, afirmou o analista independente Miguel Ángel Sandoval à AFP.

Filho de um presidente que deixou sua marca, Arévalo era visto como o favorito na corrida presidencial na Guatemala. Líder do partido Semilla, sua vitória ampla é atribuída ao fato de ter gerado esperanças de mudança em um país imerso em pobreza, violência e corrupção, fatores que levam milhares de guatemaltecos a migrar a cada ano.

Porém, ele é visto com apreensão pela elite política e empresarial que governa o país e é acusada de corrupção. O Ministério Público tentou tirá-lo da disputa para impedir sua chegada ao poder.

Milhares eleitores de Arévalo celebraram a vitória na capital e em outras cidades.

Os embaixadores dos Estados Unidos e da União Europeia expressaram disposição a trabalhar com Arévalo.

– “Tempos complexos” –

“A experiência diplomática e parlamentar fornecem [a Arévalo] uma base de conhecimento e experiência para formar uma ampla equipe de governo. Isso aumenta a sua legitimidade”, afirmou Francisco Rojas, reitor da Universidade para a Paz da Costa Rica, à AFP.

“Será um período longo antes da posse [em 14 de janeiro de 2024]. Serão tempos complexos”, acrescentou.

A ex-primeira-dama Torres contou com o apoio silencioso de Giammattei e da poderosa elite empresarial aliada ao governo. Ela lidera a Unidade Nacional da Esperança (UNE), um partido de centro-esquerda que nos últimos anos se inclinou para a direita.

Torres questionava desde sexta-feira o processo eleitoral e pediu à justiça que garantisse um processo limpo. Após a votação, seu partido anunciou que estabelecerá “uma posição definitiva quando os resultados forem esclarecidos com total transparência” e criticou os observadores eleitorais da OEA e da UE.

Torres também recebeu o apoio silencioso de vários partidos de direita, pastores evangélicos e do Ministério Público, que tentou desqualificar o partido Semilla de Arévalo.

– Manobras judiciais –

A Suprema Corte anulou definitivamente na sexta-feira a ordem de um juiz para desqualificar o Semilla e Arévalo disse esperar que o MP “abandone a perseguição em curso” contra seu partido após a vitória contundente nas urnas.

Com 64 anos e sociólogo, Arévalo é filho do primeiro presidente eleito democraticamente na Guatemala, Juan José Arévalo (1945-1951), e promete seguir o caminho de seu pai com uma agenda social e de mudança forte.

Analistas apontam que a Guatemala está vivendo um retrocesso em direção ao autoritarismo como reação ao estabelecimento da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma entidade criada pela ONU que investigou a corrupção governamental entre 2007 e 2019.

Em 2019, o então presidente de direita, Jimmy Morales, encerrou a CICIG, e Giammattei não quis ressuscitá-la.

Em um país fortemente conservador e religioso, Arévalo descarta a legalização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo ou o aborto, que é permitido apenas em casos de risco para a mãe.

A chegada ao poder de Arévalo representará o fim de 12 anos de governo de direita no país.

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