12/01/2024 - 18:21
Filho do primeiro governante democrático da Guatemala, o sociólogo Bernardo Arévalo, que tomará posse como presidente no próximo domingo (14), passou de quase desconhecido a símbolo da esperança, em um país cansado da corrução.
Esse ex-diplomata e também filósofo, de 65 anos, avançou em junho, contrariando todas as previsões, ao segundo turno presidencial, que venceu em agosto, contra a candidata conservadora aliada do governismo, prometendo perseguir os corruptos.
Desde então, Arévalo e seu partido, o Movimento Semilla, são alvo de uma ofensiva judicial liderada pelo Ministério Público, que o social-democrata afirma ter sido encomendada pela elite político-empresarial para evitar a sua ascensão ao poder.
Arévalo levantou a voz para denunciar essa arremetida como uma tentativa de golpe de Estado e recebeu o apoio da comunidade internacional e dos jovens e das comunidades indígenas da Guatemala.
Encerrando 12 anos de governos de direita, Arévalo irá substituir Alejandro Giammattei, que seus apoiadores dizem fazer parte do que chamam de “pacto de corruptos”.
Sobre as costas de Arévalo recai o legado de seu pai, Juan José Arévalo (1945-1951), eleito democraticamente após a chamada “Revolução de Outubro”, que pôs fim a décadas de ditaduras.
O mandato de Juan José Arévalo, considerado o melhor presidente da história da Guatemala, e o governo progressista de Jacobo Árbenz foram chamados de “primavera democrática” (1944-1954), com reformas sociais importantes. Mas Árbenz, promotor de uma reforma agrária, foi deposto em 1954, em um golpe de Estado executado pela CIA, encerrando a década democrática na Guatemala, que, devido ao seu clima, é conhecida como “o país da primavera eterna”.
Sete décadas depois, Washington saiu em defesa do filho do ex-presidente diante da perseguição do Ministério Público, que conseguiu inabilitar o Semilla, acusando o mesmo de irregularidades em sua formação como partido.
Evocando uma “nova primavera” para a Guatemala, Arévalo diz que seguirá “o mesmo caminho” que seu pai na luta contra a corrupção, com o objetivo de que as instituições trabalhem pelo desenvolvimento social, em um país onde 60% de seus 17,8 milhões de habitantes são pobres.
Alguns de seus críticos não acreditam que o futuro presidente terá a coragem de seu pai e afirmam que ele é uma pessoa fácil de ser manipulada.
Arévalo nasceu em 7 de outubro de 1958, no Uruguai, onde seu pai se exilou após a queda de Árbenz. Quando criança, também morou em Venezuela, México e Chile, antes de chegar à Guatemala, aos 15 anos.
Estudou sociologia em Israel e filosofia na Holanda. Foi vice-chanceler em 1994-1995 e embaixador na Espanha entre 1995 e 1996, durante o governo do presidente Ramiro de León Carpio, um defensor dos direitos humanos.
Além de espanhol, Arévalo fala inglês, francês, hebraico e português. É especialista em solução de conflitos e foi eleito deputado em 2019, logo após entrar para a política com o Semilla, que fundou com acadêmicos e intelectuais.
Para a vitória de Arévalo nas urnas, foram fundamentais os jovens, que o chamam de “tio Bernie” e compartilham suas mensagens e entrevistas coletivas nas redes sociais, principalmente no TikTok.
O presidente eleito joga xadrez é um amante do jazz. Teve três filhas em seus dois primeiros casamentos e sua atual mulher, a cirurgiã Lucrecia Peinado, também tem três filhos.
“Ele não será um ‘Super-Homem’, mas, definitivamente, é um homem honesto, de princípios, de valores, que respeita o legado e o nome do pai e é extremamente comprometido com o país”, disse Lucrecia ao jornal Prensa Libre em agosto.
Em um país fortemente conservador e religioso, Arévalo, católico, descartou legalizar os casamentos igualitários e o aborto, mas ressaltou que não permitirá a discriminação por motivos sexuais ou religiosos.
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