ROMA, 22 MAR (ANSA) – Após os indícios de acordo dos últimos dias, a escolha dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado da Itália chegou a um impasse que tem nome e sobrenome: Silvio Berlusconi.   

Todas as principais legendas do país concordam que a Câmara deve ficar com o Movimento 5 Estrelas (M5S), o mais votado individualmente nas eleições de 4 de março, com 32%, e o Senado, com a coalizão de direita, que obteve 37% dos votos e hoje é capitaneada pela Liga.   

No entanto, ainda não há acordo em relação aos nomes. Integrante da aliança conservadora, o Força Itália (FI), de Berlusconi, quer ver o ex-ministro do Desenvolvimento Econômico Paolo Romani como presidente do Senado, mas o M5S se recusa a apoiar um candidato “ficha suja” – ele já foi condenado por peculato e é investigado por gastos ilegais quando trabalhava na Prefeitura de Monza.   

Por um lado, Berlusconi vem batendo o pé quanto ao nome de Romani como candidato da direita; por outro, o Movimento 5 Estrelas não quer nem sentar à mesa de negociações com o ex-primeiro-ministro, para não “legitimá-lo”.   

“Os nomes sairão somente se houver um encontro de líderes, do contrário, a centro-direita irá com Romani no Senado e Giancarlo Giorgetti na Câmara”, disse o Força Itália após uma reunião entre os chefes de bancada, que fracassaram em sacramentar o acordo.   

Com o impasse, tanto a aliança conservadora quanto o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, devem votar em branco nas primeiras votações para a presidência da Câmara e do Senado, nesta sexta-feira (23), adiando o resultado final ao menos para sábado (24).   

“O líder da centro-direita é [Matteo] Salvini, estamos dispostos a encontrá-lo. Não legitimaremos Berlusconi”, afirmou o M5S, após o FI ter pedido um encontro entre o líder antissistema, Luigi Di Maio, e o ex-primeiro-ministro. A reunião, segundo o movimento, seria “letal” para sua imagem perante os eleitores, uma parcela da população desencantada com os políticos tradicionais.   

“Pelo respeito ao voto dos italianos, reitero nossa disponibilidade em reconhecer ao 5 Estrelas a presidência de uma das duas câmaras. Convidamos todos os grupos presentes no Parlamento a serem responsáveis e a escolher, em nome da mais ampla participação”, afirmou Salvini, secretário federal da Liga, após o fracasso das negociações.   

O processo – Na eleição para presidente do Senado, o candidato deve obter a maioria absoluta dos votos (161), mas, se ninguém atingir esse patamar nos três primeiros escrutínios, há um “segundo turno” entre os dois mais bem posicionados.   

Já na Câmara o processo pode ser mais demorado: na primeira votação, o postulante precisa de dois terços dos votos (420) totais; na segunda e na terceira, o patamar cai para dois terços dos deputados presentes na sessão; da quarta em diante, o candidato só será eleito se obtiver a maioria absoluta.   

Como nenhum partido tem os votos necessários para eleger sozinho os presidentes das duas casas, será preciso formar alianças entre grupos rivais. (ANSA)